Cotidiano

Lula depõe na Lava-Jato e confirma indicações de partidos para a Petrobras

INFOCHPDPICT000061358969SÃO PAULO ? No primeiro depoimento ao juiz Sérgio Moro, como testemunha de defesa do deputado cassado Eduardo Cunha, o ex-presidente Lula afirmou que desconhece a participação do ex-deputado na nomeação do ex-diretor da área internacional da Petrobras Jorge Zelada e na compra, pela Petrobras, de uma área para exploração de petróleo em Benin, na África. As perguntas, porém, foram feitas apenas pela defesa de Cunha e pelo Ministério Público Federal. Moro não fez perguntas a Lula.

ConteudoBumlai

O Ministério Público Federal quis saber quais partidos indicaram cargos na Petrobras. Lula disse que todos os que compuseram a base do governo e citou PMDB, PT e PP.

– Eu já expliquei mais de uma vez, que, quando compõe uma aliança politica para governar, todos podem reivindicar ministérios, cargos, e esses partidos fazem parte do governo. Era montado assim, antes, depois e assim é agora – disse Lula, acrescentando ainda que “não tem cargo para todo mundo”.

Lula disse que, apesar de os advogados afirmarem que ele não precisaria responder, fazia questão de falar.

– Quero dizer que faço questão de responder, o maior interessado sou eu – disse Lula, ao ser advertido pelo juiz que poderia responder criminalmente caso faltasse com a verdade, como ocorre com todas as testemunhas.

A primeira pergunta da defesa de Cunha foi sobre a indicação de Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras.

– A nomeação se deu da mesma forma como outros membros da direção da Petrobras. A indicação ou é feita numa conversa com um ministro da área ou com o partido que fez, com a bancada do partido que fez coalisão com o governo. Essa pessoa é indicada, vem pelo ministro de relacões institucionais, manda para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), se não tiver nada (contra a pessoa) é indicada para o conseltho da Petrobras, que é quem nomeia – explicou Lula.

O advogado de Cunha perguntou quem indicou Cerveró e Lula afirmou que a informação que tem é que a indicação foi feita pelo PMDB. Perguntou também quem indicou Jorge Zelada, e Lula disse que acredita ter sido o PMDB, “da mesma forma que o Cerveró foi indicado”.

Lula disse que a única exigência é que o indicado fosse tecnicamente competente, e que, para ele, todos os citados “têm competência e história dentro da Petrobras.

O advogado perguntou se houve pedido do presidente Michel Temer, que na época era deputado federal pelo PMDB, para alguma indicação e Lula negou.

Lula negou também que a troca de Cerveró por Zelada tenha sido vinculada à votação da CPMF. O delator Delcídio do Amaral afirmou, em depoimento, que o PMDB da Câmara quis o cargo, que pertencia ao PMDB do Senado, em troca da aprovação da CPMF.

Lula disse que desconhece resistências para manter Cerveró no cargo e que não tem conhecimento sobre a participação de Cunha na indicação de Zelada.

O advogado de Cunha quis saber ainda se Lula sabia porque Cerveró foi indicado para a diretoria financeira da BR Distribuidora.

– Certamente foi indicado porque tinha competência para o cargo – disse Lula.

Lula, que ficou pouco mais de 1h no prédio da Justiça Federal de São Bernardo de Campo (região de metropolitana de São Paulo), e chegou e saiu sem falar com a imprensa e com apoiadores que fizeram um ato de menos de um minuto com gritos de “fora, Temer”. Foi o único momento, durante cerca de 5h de concentração, que houve alguma manifestação do grupo.

Lula, que chegou e saiu sob a proteção de seguranças, não presenciou o ato. Apesar de o Movimento Brasil Livre ABC ter convocado uma manifestação contra o ex-presidente pelas redes sociais, a mobilização não ocorreu. Bumlai, que deixou a Justiça Federal antes de Lula, também saiu sem dar entrevistas.

Cerveró, também delator da Lava-Jato, afirmou ter ouvido de José Eduardo Dutra, então presidente da Petrobras, que havia sido indicado para a BR Distribuidora numa espécie de retribuição por ele ter fechado um contrato de exploração de sondas com uma empresa do Grupo Schahin, que teria sido usado para quitar uma dívida de R$ 50 milhões do PT.

O Grupo Schahin reconheceu ter feito empréstimo em nome do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, no valor de R$ 12 milhões, que foi quitado fraudulentamente com o contrato da estatal. Bumlai também confessou ter emprestado seu nome para a operação.

Outro delator da Lava-Jato, Eduardo Vaz Musa, disse que a palavra final na indicação de Zelada seria de Eduardo Cunha. Lula negou.

– Eu conheço que era do PMDB (a indicação), não de bancada estadual.

O Ministério Público Federal acusa Cunha de ter recebido propina relacionada ao negócio fechado pela estatal, por ter indicado Zelada para o cargo. O pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, que também foi arrolado como testemunha de Cunha, não respondeu a perguntas feitas pela defesa de Cunha. Uma delas foi se a nomeação de Nestor Cerveró para diretor financeiro da BR Distribuidora havia sido relacionada a algum tipo de “arranjo financeiro”.

Cerveró antecedeu Zelada na diretoria internacional da Petrobras e teria sido premiado pelo PT com o cargo na BR por ter ajudado a quitar a dívida de Bumlai no Banco Schahin, de R$ 12 milhões, oferecendo um contrato de operação de sondas para uma das empresas do Grupo Schahin. Bumlai confessou ter retirado o empréstimo em seu nome, para o PT, e foi condenado a nove anos de prisão pelo juiz Sérgio Moro. Por determinação do Supremo Tribunal Federal, o pecuarista cumpre prisão domiciliar.

Bumlai deixou de responder perguntas de fatos que poderiam lhe envolver, já que segue na condição de investigado na Lava-Jato. Em relação à participação de Cunha no contrato de Benin, o pecuarista disse desconhecer os fatos.