Cotidiano

Luiz Aquila exibe novas formas da abstração

RIO – Luiz Aquila tem uma teoria sobre a longevidade dos pintores. A sensação de terminar um trabalho, que ele associa a algo parecido com a morte (no sentido de fim de um processo), e o estado de euforia que se segue a ela, como um despertar, acaba por criar um ciclo de renascimentos:

? Acho que é por isso, de tantas mortes, excitações e vidas novas, que o pintor acaba vivendo tanto. O cara da minha idade que está finalizando uma exposição tem o mesmo susto que um cara de 30 anos.

O susto de Aquila, aos 72 anos, está associado ao fim de um ciclo, traduzido na mostra ?Pinturas recentes e desenhos reencontrados?, que será aberta hoje ao público, na Galeria Patricia Costa. Ela reúne sete telas produzidas em 2016 e ainda seis desenhos do fim dos anos 1970. Garimpados pela curadora Luisa Interlenghi no ateliê do artista em Petrópolis, os desenhos têm em comum o uso acentuado do azul, presente nas pinturas.

Foi em Petrópolis, num espaço banhado de luz e cercado pelo verde, que Aquila se dedicou à nova série. São telas abstratas, como toda a produção de uma carreira iniciada quando jovem ? nascido em família de artistas (seu pai é o artista e arquiteto Alcides da Rocha Miranda), começou a ter aulas cedo, com Aluisio Carvão e Oswaldo Goedi. Hoje, esse longo percurso permite identificar uma autoria bem forte em seus trabalhos. Mas as novas telas têm algo de diferente: um caráter arquitetônico, ?no sentido de uma construção mais nítida dos elementos?, observa ele.

? Tem superfícies chapadas, lisas, que valorizam as mais trabalhadas, com mais cores misturadas ? avalia Aquila, que sente estar vivendo o frescor de algo novo, depois de uma grande retrospectiva de 50 anos de carreira, no Paço Imperial, em 2013.

FILME SOBRE O ARTISTA TEM LANÇAMENTO NA MOSTRA

Para a curadora Luisa Interlenghi, Aquila ?acolhe pausas luminosas, densas formações do branco, clareiras? nesses trabalhos em que intensidades de cor disputam espaço na tela. O artista esclarece que nada é fruto de decisão premeditada. A tela em branco é algo tremendamente sedutor, com a qual, diz, é ?muito difícil lidar?. Por isso, talvez, nunca esteja ?em pausa?. Mal dá por finalizada uma pintura, passa a outra tela, e se encanta com a possibilidade de modificá-la inteiramente.

? Pinto o tempo todo ? diz ele. ? Mesmo quando não estou efetivamente pintando, estou no ateliê, olhando a pintura, lendo, escutando música. Um amigo meu, poeta, diz que o texto dele só sai bem quando desiste de escrever. É ali, quando não precisa mais do texto, que encontra na verdade o que tinha para dizer. É assim com a pintura. Se eu soubesse como o quadro terminaria, nem o começaria. Gosto do risco, da aventura.

A abertura da exposição marca também o lançamento de ?Aquila, Luiz?, curta-metragem de Luiz Carlos Lacerda, o Bigode. O cineasta acompanhou o artista nos últimos seis meses, em seu ateliê e em locais como o MAM, o Museu Nacional de Belas Artes e o Paço. Uma última cena ainda será acrescentada ao filme: a da abertura da mostra para convidados, ontem.