Cotidiano

Luis Porter, professor: 'O quadro-negro é uma tecnologia muito arcaica'

201607181340224293.jpg “Nasci em Buenos Aires, mas fui ainda jovem para o México, onde me formei em Arquitetura. Eu me especializei em Urbanismo, mas fui para os EUA estudar Educação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Fiz doutorado na Universidade Harvard. Hoje sou professor na Universidade Autônoma Metropolitana, na Cidade do México.”

Conte algo que não sei.

É uma ideia poética, meio filosófica: o conhecimento não é algo que sei, mas o que quero saber. O conhecimento é o livro que estou lendo; aqueles que já li, servem para dar de presente. Sempre que me convidam para uma conferência, vou falar sobre o que me inquieta. Essa ideia também diz que o conhecimento é inesgotável.

E o que o inquieta agora?

É um outro pensamento filosófico, uma metáfora que diz que a educação não pode acontecer em qualquer horário do dia, tem que ser quando o Sol está nascendo ou se pondo. Quando há penumbra, meia-luz. Por quê? Se digo ao aluno que isso é o que ele tem que saber, dou o Sol, estou duvidando da sua inteligência. Se for de madrugada, o aluno não enxerga direito, vai ter que adivinhar, pôr em jogo a sua percepção, seu ponto de vista. O aluno aprende mais quando usa sua inteligência para adivinhar o que o professor sugere.

Isso não é comum…

Não! A maior parte dos professores explica. Se eu explico, é porque penso que você não é inteligente o suficiente para entender. Explicar é ruim. Um pianista pode aprender a tocar muitas escalas porque o professor mandou ou porque ama a música e descobriu que aquilo lhe faria tocar melhor. O pianista que aprendeu na educação quadrada é muito bom, mas não é feliz. O outro pode até não tocar tão bem, mas é feliz! O que é mais importante, tocar bem ou ser feliz?

O que quer dizer com a expressão “A universidade de papel”, título de seu livro?

É uma crítica às políticas formuladas pelos governos. O Estado define quanto o ensino superior vai crescer, como vai funcionar. Em vez de conversar com a comunidade acadêmica, no México os tomadores de decisão falam com quem decide como deve ser a educação no Terceiro Mundo. Para eles, a educação serve para gerar trabalhadores qualificados, não engenheiros inventivos, filósofos, inventores… Esses estão nos EUA, na Europa, nós servimos para obreiros.

E por que a universidade seria “de papel”?

Essas políticas interferem no funcionamento das universidades e obrigam os professores a cumprirem questões burocráticas, de papel, que desviam a atenção do essencial, os alunos. A universidade no México se tornou uma universidade controlada pelo governo para cumprir metas. Em sala eu tenho liberdade, essa ainda não foi perdida.

E como deveria ser?

Tratei disso em outro livro, “A universidade imaginada”. Juntamos um grupo de pesquisadores para imaginar uma universidade ideal, num exercício utópico. Esquecendo limitações e modelos, pensamos numa universidade sem carreiras. Professores e alunos trabalham juntos para resolver problemas reais, e ao redor deste projeto, enquanto trabalham, vão direcionando o campo de atuação. É outra concepção. As universidades não precisam de edifícios. Você pode ter numa cidade células conectadas, discutindo projetos remotamente, usando a tecnologia, não a carteira escolar.

Você é um entusiasta da tecnologia na educação?

Dou aulas no esquema tradicional, mas digo aos alunos que moram longe que se comuniquem comigo por Skype ou Facebook. Apareça quando for necessário. Pegar um ônibus e viajar duas horas para estudar é um absurdo, isso precisa mudar. Mas precisa ser uma revolução. O quadro-negro é uma tecnologia muito arcaica.