Cotidiano

Líder do 'não' ao acordo com Farc gera polêmica ao admitir 'manipulação'

BOGOTÁ – O chefe da campanha do “Não”, que venceu o plebiscito sobre o acordo de paz com as Farc, provocou polêmica na Colômbia ao admitir que suas mensagens “eram manipuladoras”. A declaração de Juan Carlos Vélez foi prontamente negada pelo ex-presidente Álvaro Uribe, que liderou os esforços pela rejeição ao acordo.

“Os companheiros que não cuidam das comunicações causam problemas”, tuitou Uribe, atual senador e líder do direitista Centro Democrático, ao se referir à “equivocada ou distorcida entrevista do médico Juan Carlos Vélez”.

Vélez, ex-senador e ex-candidato à Prefeitura de Medellín, ficou encarregado pela campanha do “Não”, opção que venceu no domingo (2) por uma diferença de quase 54.000 votos, deixando incerto o futuro do acordo de paz selado com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas).

“Estávamos buscando que as pessoas fossem votar enojadas”, assinalou em entrevista ao jornal econômico “La República” na quarta-feira (5). “Alguns estrategistas do Panamá e do Brasil nos disseram que a melhor maneira era deixar de explicar os acordos para centrar a mensagem na indignação”.

À pergunta “Por que vocês distorceram as mensagens para fazer campanha?”, Vélez contestou: “Foi o mesmo que fizeram os [apoiadores] do ‘Sim'”.

Ele explicou também que o discurso se adaptou ao nível sócioeconômico ao qual se dirigia. “Em emissoras de classe média e alta nos baseamos na não impunidade, na elegibilidade [dos ex-guerrilheiros a cargos políticos] e na reforma tributária, enquanto nas emissoras de classes baixas nos focamos nos subsídios”, disse. “No litoral individualizamos a mensagem de que nos tornaríamos a Venezuela.”

Segundo Vélez, “o ‘Não’ foi a campanha mais barata e efetiva em muito tempo. Seu custo-benefício é muito alto”.

As cinco principais empresas colaboradoras foram a Organização Ardila Lülle, o Grupo Bolívar, o Grupo Uribe, Codiscos e Corbeta – todos os grupos econômicos influentes na Colômbia.

“Não imaginamos que ganharíamos”, reconheceu sobre o inesperado resultado que deixou o governo de Juan Manuel Santos em apuros.

“A enorme diferença entre o ‘Sim’ e o ‘Não’ que aparecia nas pesquisas me causava problemas como gerente para conseguir dinheiro”, indicou Vélez, e contou que durante a arrecadação de fundos começou “a notar um ‘Não’ envergonhado”, e soube que empresários que diziam votar pelo “Sim” na verdade votariam pelo “Não”.