Cotidiano

Léo Pinheiro diz que Berzoini participou de reunião para obstruir CPI da Petrobras

SÃO PAULO ? O ex-presidente da OAS Léo Pinheiro afirmou, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que Ricardo Berzoini, então ministro das Relações Institucionais de Dilma Roussef, participou de reunião com Gim Argello e Vital do Rêgo, destinada a barrar as investigações da CPMI da Petrobras. Vital do Rêgo era presidente da comissão; Argello era o vice.

O empresário disse que havia sido convidado para um encontro na casa de Argello, em Brasília, e que ficou surpreso com a presença do ministro. Berzoini teria relatado a preocupação do governo com o desenrolar das investigações da comissão e pedido a colaboração da empresa para evitar que o governo fosse prejudicado. Segundo ele, Berzoini ficou cerca de 40 minutos no encontro.

Léo Pinheiro disse que, após a reunião, teve a clara impressão de que a presença do ministro era um instrumento de pressão.

? Claro que o presidente de uma CPI, o vice-presidente, um ministro de estado e um empresário que está sendo investigado não é uma reunião adequada, acho que isso está claro para qualquer pessoa ? afirmou.

Pinheiro contou que os senadores não pediram dinheiro na reunião com Berzoíni, mas lhe disseram que, em função dos cargos que ocupavam na CPMI, poderiam interferir no andamento dos trabalhos. Outros encontros foram agendados e Argello afirmou que ele teria de ajudar com recursos, incluindo dinheiro para a campanha de Vital do Rego ao governo da Paraíba.

O empresário disse ter feito uma única contribuição a Argello, de R$ 350 mil, por meio da Paróquia São Pedro, em Taguatinga, do padre Moacir Anastácio. Para Vital do Rego, segundo ele, foram depositados R$ 1 milhão na conta do PMDB nacional e outros R$ 1,5 milhão por meio de caixa 2. No caso do caixa dois, as orientações para depósito teriam sido dadas por um advogado de Recife identificado apenas como Alexandre. Pinheiro disse que os funcionários da OAS demoraram a fazer contato com o advogado, que fora indicado pelo próprio Vital do Rego, e, por isso, os senadores chegaram a dizer que não mais ajudariam a empresa.

Em relação a contribuição para a campanha de Vital do Rego, Léo Pinheiro afirmou que não se tratava de uma doação política.

? O estado da Paraíba não era um estado estratégico para a empresa. Uma doação dessa monta, óbvio que não é uma doação política ? disse.

Questionado pelo juiz Sérgio Moro se acreditava que o pedido feito por Gim Argello e Vital do Rêgo seria uma extorsão, Léo Pinheiro afirmou que sim.

? Com toda a sinceridade, com toda a verdade, claro que eu cometi um crime, eu estou consciente disso. Mas lógico que tinha uma extorsão ?disse.

RELATOR DA CPMI TAMBÉM TERIA PEDIDO DINHEIRO

Durante o depoimento, Léo Pinheiro citou também um encontro com o deputado Marco Maia (PT-RS), relator da CPMI. De acordo com o ex-presidente da OAS, nesta reunião, o deputado afirmou na conversa que poderia proteger a empresa. Segundo Léo Pinheiro, Maia teria dito que, por ser relator de uma CPI desse porte que investiga a Petrobras e a maioria dos grupos empresariais do país, encontraria dificuldades com doações de campanha e, em troca da ajuda, pediu uma contribuição de R$ 1 milhão, que foi feita pela OAS.

Marco Maia, de acordo com o ex-presidente da OAS, teria indicado um empresário chamado José, que o teria ajudado em campanhas políticas.

Léo Pinheiro disse que o primeiro convite para um encontro com Argello foi feito por Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, e admitiu ter convidado para participar das conversas Ricardo Pessoa, da UTC, e o lobista Júlio Camargo. Os três são delatores da Lava-Jato.

Moro perguntou se ele imaginava que pediriam dinheiro para Ricardo Pessoa, e ele admitiu que sim.

? Era óbvio, eu sabia que podiam fazer o que fizeram comigo ? disse.

O ex-presidente da OAS é réu na ação que investiga obstrução dos trabalhos da CMPI e havia permanecido em silêncio em seu primeiro depoimento. Um dia depois de ter prisão preventiva novamente decretada por Moro, voltou atrás e decidiu falar.

Léo Pinheiro estava negociando acordo de delação premiada, mas as conversas foram interrompidas pelo procurador geral Rodrigo Janot, que alegou vazamento de informações.

Em sua declaração final no depoimento, Léo Pinheiro admitiu ter cometido crimes e afirmou pela primeira vez sua vontade em colaborar com as investigações.

? Quero colaborar no que eu puder e agindo exatamente como agi aqui. Eu sei dos crimes que eu cometi. Não estou fugindo de de nenhum deles. Direi todos que cometi, seja quem for do outro lado ? afirmou.

Para o executivo, ele não estava interessado em evitar sua convocação para a CPMI, mas proteger, de forma geral, que as investigações não chegassem à OAS.

? Se não fosse o Ministério Público e o juiz, olha o que aconteceu, eles investigaram. A CPI não investigou, não chegou no final de nada. Quando ela me indiciou, eu já estava preso ? afirmou.

Procurados, Ricardo Berzoini, Vital do Rêgo e Marco Maia ainda não se posicionaram.