Cotidiano

Leitor da era digital é parceiro na produção e distribuição de notícias

RIO ? Há tempos que os leitores contribuem com o trabalho das redações, no início por cartas, depois por telefone, mas a interação propiciada pela revolução digital é sem precedentes. Hoje, o leitor de um veículo de imprensa é muito mais que o receptor do conteúdo. Ele se transformou em parceiro, tanto na produção como na distribuição das notícias.

? A função do jornalista não mudou. É ele que relata os fatos, conta as histórias, mas tem mais facilidade para ouvir ? avalia Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio. ? Mas hoje ele tem a contribuição do leitor. Os veículos de comunicação pedem que os leitores enviem fotos e vídeos, por WhatsApp ou outras plataforma. Não é mais a caixinha de comentários. O leitor sempre quis participar, mas não tinha canais para fazer sua voz ser ouvida.

Quando o site do GLOBO foi lançado, em julho de 1996, a interação por meio da internet era mínima. O e-mail era praticamente a única ferramenta de comunicação entre as pessoas. Usuários mais avançados se aventuravam no mIRC, mas as páginas se limitavam a apresentar um conteúdo estático. Com a chegada da web 2.0, na virada do século, os usuários passaram a ser convidados a participar, seja deixando um comentário ou produzindo conteúdo para formar a mais completa enciclopédia já criada pela Humanidade.

E as ferramentas de comunicação instantânea avançaram rapidamente. A primeira a se popularizar foi o ICQ, seguido pelo MSN Messenger. Em 2002, o Friendster foi criado nos EUA, depois o MySpace, originando o segmento que conhecemos hoje como redes sociais. Os veículos de imprensa foram se adaptando aos novos tempos. Na onda do Orkut, que pegou o país de assalto, o GLOBO lançou em 2007 o Globoonliners, que reunia os leitores em comunidades de acordo com o interesse.

A evolução nesses dois segmentos foi meteórica. Os pioneiros foram encerrados ou perderam a relevância. Hoje, o cenário é dominado pelo WhatsApp e pelo Facebook Messenger, no segmento de mensagens instantâneas, e pelo Facebook, entre as redes sociais. Todos possuem mais de 1 bilhão de usuários no mundo, e têm no Brasil um importante mercado.

Essas mudanças apresentam desafios para a indústria da imprensa, mas abre um leque de novas oportunidades. Steibeldestaca que nunca antes na História as pessoas leram tantas notícias, e elas ajudam voluntariamente na distribuição do conteúdo, publicando links de notícias em redes sociais ou compartilhando com amigos e familiares por aplicativos de mensagens.

? As pessoas leem menos? Não, elas leem muito mais. Os comentários sobre o noticiário, que antes acontecia na padaria, com um grupinho de conhecidos, agora acontecem em tempo real, com milhões de pessoas ? ressalta o especialista.

ANTÍDOTO PARA BOATOS

Para Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, ligado à Universidade do Texas, nos EUA, a imprensa profissional precisa ocupar novos espaços no mundo pós-revolução digital. A popularização das redes sociais, por exemplo, trouxe inúmeras possibilidades, mas abriu espaço, inclusive, para a propagação de boatos.

? A cacofonia que se cria quando todo mundo tem voz não vai afogar o jornalismo profissional, ético, baseado na disciplina da verificação e constrói sua credibilidade ao longo do tempo ? diz Alves. ? Um dos grandes fenômenos que temos na internet hoje é a epidemia de notícias falsas, e o jornalismo é o antídoto para isso.

Essas e outras mudanças no fazer jornalístico e os impactos da tecnologia na vida das pessoas serão abordados no evento ?Evolução das mídias na era digital?, que celebra os 20 anos do site do GLOBO. O debate acontece no dia 28 de julho no Senac Rio, que fica na Rua Marquês de Abrantes 99, Flamengo.