Cotidiano

Legislativo rejeita estado de exceção na Venezuela

CARACAS ? A Assembleia Nacional aprovou na tarde desta terça-feira, em sessão especial, um acordo que desaprova o Estado de Exceção e Emergência Econômica decretado pelo presidente Nicolás Maduro no dia 13 de maio. Liderados pelo deputado Pedro Carreño, representantes chavistas classificaram o documento como “ilegal”, já que não constava na ordem do dia.

O documento estabelece que Maduro tenta impor sua vontade, ignorando a Constituição, e que o estado de exceção decretado pelo presidente busca reduzir a atuação do Parlamento, além de suspender as disposições constitucionais nos controles da Assembleia. O documento ainda insta ONU, OEA, Mercosul e Unasul a interromper o desmantelamento da democracia no país, e exige que Maduro submeta-se à Constituição e tome medidas adequadas. venezuela

Segundo o presidente da Comissão de Política Exterior, Luis Florido, o objetivo do governo é “converter a Venezuela no país do autogolpe”.

? Ninguém está atingindo Nicolás Maduro. Ele está caíndo somente porque seu regime é antidemocrático e não resolve os problemas que atingem hoje os venezuelanos ? afirmou Florido. ? Proteger a Venezuela é um direito da Assembleia Nacional, que deve lutar pelos que não têm nada, enquanto vocês (parlamentares) têm caminhonetes e aviões.

O líder oposicionista e governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, afirtmou que os venzuelanos não dvem reconhecer o estado de excessão decretado por Maduro, e garantiu que o referendo revocatório será realizado em 2016.

“O referendo acontecerá porque essa é a decisão maioritária do povo venezuelano, goste ou não o ocupante do Palácio de Miraflores”, afirmou Capriles em sua conta no Twitter.

Outro nome que se manifestou contra o presidente venezuelano foi o ex-campeão mundial de xadrez, Garry Kasparov:

“Não é surpresa alguma que Maduro tenha feito uso de uma lei marcial e de ‘inimigos externos’ agora que a Venezuela está em colapso. É o clássico manual dos ditadores”, afirmopu Kasparov no Twitter.

Maduro: ‘Desaparecimento do Parlamento é questão de tempo’

201605171505517019_RTS.jpgO presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que a Assembleia Nacional perdeu a vigência política no país e, por isso, é questão de tempo para que a instituição desapareça. Na entrevista coletiva desta terça-feira, o mandatário ainda afirmou que os Estados Unidos fizeram duas incursões no espaço aéreo do país. Segundo Maduro, duas aeronaves do modelo Boing 707 E-3 SENTRY entraram no território do país para fazer trabalhos de espionagem nos últimos dias 11 e 13 de maio.

? A Assembleia Nacional da Venezuela perdeu a vigência política. É questão de tempo para que desapareça ? disse o presidente. ? Eles querem destruir a economia. Há um pouco de loucura e de desespero.

Em seu discurso, ele fez novas críticas ao Parlamento venezuelano, atualmente dominado pela oposição, que trabalha em uma campanha pela saída do presidente de Miraflores. Ele disse que seus opositores pretendem fraudar as leis do país.

? Nenhuma das opções que a direita anunciou para acabar com a revolução e me derrubar ou me revogar tem viabilidade política ou histórica, e nenhuma terá êxito.

Enquanto isso, o líder oposicionista Henrique Capriles também realizou uma entrevista coletiva nesta terça-feira. Ele convocou os militares a decidirem se estão do lado de Maduro ou da Constituição. Ele ainda fez um apelo para que o país desobedeça o decreto que estabeleceu o estado de exceção no país.

? Eu digo às Forças Armadas: aqui está chegando a hora da verdade, de decidir se você está com a Constituição ou se você está com Maduro. Esta será uma decisão que caberá às Forças Armadas tomar ? disse Capriles.

‘Incursões militares’

Nesta terça-feira, Maduro ainda afirmou que os Estados Unidos realizaram dois sobrevoos militares às 06h03 e 06h09 dos dias 11 e 13 de maio sobre a Venezuela. Em sua declaração desta terça-feira, o presidente venezuelano ainda disse que “talvez seja a hora de fazer uma nova revolução”.

? (Estes aviões) são utilizados pelos Estados Unidos para comunicações de grupos armados em zonas de guerra ou para inutilizar equipes do governo ou das Forças Armadas. São aviões com capacidades técnicas letais ? disse Maduro.

O presidente afirmou que as incursões ilegais serão severamente protestadas frente ao governo dos Estados Unidos. Ele não detalhou quais foram os pontos de entrada da aeronave.

? Estou de pé para a luta. Não é tempo de traições ou de traidores, é tempo de lealdade pelo que é nosso. É tempo de nos construirmos, cometer erros como país livre e consertá-los. Construir nosso próprio sistema, e não o que nos é imposto ? completou Maduro em entrevista coletiva no Palácio de Miraflores.

Atualmente, Maduro governa sob estado de exceção, que é justificado, entre outras coisas, por uma ameaça externa à Venezuela. Nesta terça-feira, ele denunciou a existência de um suposto complô orquestrado pelos Estados Unidos ? com a participação da Espanha e da Colômbia ? que apontaria a crer em um cenário de violência no país para justificar uma intervenção militar estrangeira e tirá-lo do poder.

Segundo o presidente, o país é objeto de agressão sistemática, política, midiática e de caráter diplomático que quebra os parâmetros regulares.

? Enfrentamos diversas modalidades deste complô internacional e saímos delas corretamente porque defendemos nossa pátria e sempre com a verdade. São 17 anos de combate permanente ? disse o presidente. ? Com essa experiência, agora estamos sendo vítimas das ameaças mais graves que nosso país já viveu nos últimos dez anos.

Em seus três anos de governo, Maduro denunciou diversas supostas conspirações contra a sua gestão. As denúncias aumentaram logo após a coalizão opositora venezuelana ter iniciado a coleta de assinaturas para ativar um referendo revogatório contra o seu mandato em abril deste ano.