Cotidiano

Laranjeiras ganha ?guide shop? de decoração

RIO – O advogado Caetano Altafin, de 33 anos, tirou três meses ?sabáticos?, de janeiro a março de 2015, para fazer uma travessia de remo pelo Oceano Atlântico. Ao mesmo tempo, sua mulher, a cenógrafa e designer de interiores Ciça Schurig, de 33, mergulhou em um curso de visual merchandising em Londres. Antes de voltar oficialmente ao Brasil, o casal aproveitou para bater perna por Ásia, Índia, Japão e China. Com a mala cheia de ideias (pipocando) e uma seleção de objetos para casa, eles abriram a Casa Mind (?Uma guide shop com peças de decoração, em que a venda é orientada por designers de interiores e arquitetos, com hora marcada?, Caetano resume). Primeiro, a lojinha com uma curadoria voltada para o fun design começou a funcionar virtualmente, em forma de e-commerce. Depois, virou uma loja física bem pequenininha na Vila Madalena, em São Paulo. Até que enfim, esta semana, chegou ao Rio, onde ocupa um sobrado de dois andares, todo reformado, em Laranjeiras, vizinho à Praça São Salvador.

? Nosso estoque tem peças como tigelas, pratos e porta-copos, que redesenham uma situação cotidiana de forma mais interessante. Além da funcionalidade, têm memória afetiva ? diz Ciça, que contabiliza mil itens no acervo carioca.

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A experiência é assim: o cliente entra na loja e é recepcionado por ela, Thiago Jatobá, formado em cinema e com especialidade em montagem de exposições, e Diogo Jobim, designer gráfico e músico, que lhe oferecem um café e um brownie. Sem cerimônia, eles despejam um interrogatório.

? Você quer comprar uma luminária? É para leitura? Você lê sentado ou deitado? É uma poltrona ou um sofá? Tem uma mesa lateral? Que tipo de iluminação usa? ? bombardeia, no bom sentido, Ciça. ? Muitas vezes, não é só uma luminária que a pessoa está buscando. A gente ajuda a vestir a casa, a compor um cantinho.

A dupla começou a brincar de casinha em 201,1 quando morou em Nova York. Dali, pintaram referências como as lojas CB2 (versão mais descolada da Crate & Barrel), West Elm e Urban Outfitters, que serviram como inspiração para a Casa Mind.

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? Quando montamos nosso primeiro apartamento, encontramos lojas muito bacanas, com preço justo e peças de qualidade, que eram acessíveis para todo mundo ? lembra Caetano.

A seleção das peças é equilibrada entre o design nacional e o internacional. Algumas delas fazem parte da cenografia da terceira temporada do programa ?Decora?, no GNT.

? Gosto de trabalhar com fornecedores brasileiros. Cada objeto tem uma história, uma logística. Tem um sofá com estofado de Nairóbi (África), que compramos em uma feira em São Paulo e trouxemos no carro ? exemplifica Ciça, que sofre na hora de se despedir dos itens. ? Antes de abrir, vendemos três luminárias. É difícil desapegar.

A dupla encontrou o sobrado onde funciona a Mind na internet, enquanto viajava pela Tailândia. A casa, com mais de cem anos, era ocupada por um sindicato de educadores.

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? A gente não sabia que seria em Laranjeiras, não era uma coisa objetiva. A ideia era sair do circuito Ipanema e Jardim Botânico ? diz Ciça.

O sobrado de 80 metros quadrados tem, agora, sete ambientes: hall, banheiro, três salões, cozinha e varandinha. Uma porta de ferro foi reaproveitada. Sua nova função é ficar pendurada no teto do hall para servir como suporte de vasos de plantas. A escada original, de peroba, foi raspada, livrando-se da tinta vermelha. O piso é de ipê. A fachada, de cimento queimado com faixa rosa na diagonal, tem letreiros em néon. No interior, painéis do artista plástico Rafael Mlatisoma compõem quase todos os ambientes.

? A casa estava caindo aos pedaços. A reforma durou menos de seis meses e custou R$ 80 mil ? estima Caetano, que ainda não tem endereço fixo para morar na cidade. ? Passamos anos rumando por aí. É engraçado que a Casa Mind tenha ganhado um teto antes da gente.