Cotidiano

Lançando DVD, Roberta Sá faz show na Praia de Ipanema neste sábado

2015 868199474-2015 866904631-roberta sa¦ü_foto daryan dornelles (3280t).jpg.jpg Links Roberta SáRIO ? O pôr do sol na Praia de Ipanema vai motivar salvas de palmas neste sábado por sua beleza, mas também pelo espetáculo que virá logo depois. Roberta Sá vai subir ao palco do Projeto Verão Rio O GLOBO para apresentar canções de seu DVD “Delírio”, que foi gravado no Circo Voador. Nesta entrevista, ela conta como a escolha do repertório (para o DVD e para o show) e diz que está num momento mais livre de amarras: “Eu era muito preocupada com a perfeição. Tudo era over editado, over afinado. Mas a realidade está mais legal”.

Como escolheu o repertório do DVD?

O meu disco falava muito de paixão, desse ponto de vista feminino sobre o amor. Escolhi músicas do meu repertório que conversavam com esse universo. Claro que tem algumas que não podem faltar porque o público pede, como “Cicatrizes” e “Samba de um minuto”. Mas um disco é diferente de um show. Num show, você pensa mais na troca. Escolhi coisas que não tocava há um tempo.

E canções como “Gostoso veneno”?

Queria botar uma coisa mais conhecida. Algo desse universo da paixão dentro do samba, queria algo bem explícito para poder desenhar isso para o público. O disco fala muito de entrega. A princípio falava muito de entrega e paixão no sentido do amor romântico, da mulher, mas fala também da minha entrega no palco. Da paixão por ser porta-voz desses compositores. Tive música feita pra mim por Martinho (da Vila), por Adriana (Calcanhotto). Nâo é algo que passa batido por mim. Fico muito apaixonada.

E como pensou o registro visual do show? O que buscou?

Queria que fosse um registro simples. O Circo Voador não é o lugar ideal em posição de câmera. Às vezes vaza uma câmera. Mas a gente queria essa coisa mais real, menos perfeita. E isso tem a ver com meu momento. Tem uma música do Moreno (Veloso) – “Um passo à frente, um passo atras” – que tem um verso que podia ser o nome do DVD: “Minha imperfeição é a voz da vez”. Ando sentindo muita graça nas imperfeições. A gente está num mundo muito doido. E, em vez de mostrar isso, a gente tem tanto recursos para ficar plasticamente perfeito que fica até asséptico. O que a gente refez acabou nem usando. Roberta Sá – Gostoso veneno (DVD Delírio no Circo) [Vídeo Oficial]

Mas essa postura sua é recente, não?

Eu era muito preocupada com isso, com a perfeição. Tudo era over editado, over afinado. Tinha esse sentimento de descoberta disso. Mas a realidade está mais legal. Aquela brincadeira cansou. Vejo isso em tudo. Até a própria ideia de beleza. Antes eu pensava que a música era separada da vida, como se tivesse meu trabalho e minha vida pessoal. Hoje eu acho que é tudo junto.

E como o DVD documenta a sua relação com o samba?

O samba é sempre uma volta para casa. É um lugar muito confortável, onde eu sempre encontro novidade. É uma fonte inclusive para você achar as crônicas do cotidiano. O samba unifica a cidade. Está cada vez menos preconceituoso nas suas subdivisões, isso é enriquecedor. Me identifico muito com essa alegria triste, essa tristeza que balança, como diz o Vinicius (de Moraes). A alegria com que se canta um verso como “sozinho curto a minha dor” é a alegria de sentir, de estar vivo. Uma conexão com o que é humano.

Fale um pouco dos compositores que te interessam, que aparecem no DVD.

Senti uma necessidade de atualizar o discurso. Escuto de tudo, Valesca (Popozuda), Debussy, Anitta, Ludmilla, Bethania recitando Fernando Pessoa. Spotify paga muito mal aos artistas, mas é bom para mim como ouvinte. Então percebo, ouvindo artistas tão diversos, que existe alguma coisa que não estou conseguindo comunicar no meu trabalho, mas que comunica comigo como ouvinte. Senti necessidade de comunicar comigo. Adriana fez “Me erra”, Martinho fez “Amanhã é sábado”. Por que Tom Veloso e Ataulfo Alves não podem conviver? Quero pôr todos no mesmo lugar. Eu sempre fiz isso de alguma forma, mas acho que não tinha tanta consciência.