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LaMia omitiu reabastecimento de clube paraguaio que voou a Medellín

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Antes do fatídico voo que levava a Chapecoense para a Colômbia e cuja queda é associada inicialmente a falta de combustível, a companhia aérea LaMia já exibia uma postura confusa ao planejar suas escalas para reabastecimento. O GLOBO apurou que a empresa boliviana omitiu a necessidade de uma escala em Cobija (BOL) ao planejar o voo fretado que levou o clube Sol de América (PAR) desde Assunção, capital paraguaia, até Medellín, na Colômbia, em setembro, dois meses antes da tragédia com o clube brasileiro.

Chapecoense – 06.12

O trajeto em questão chega a cerca de 4 mil km, enquanto o voo da Chapecoense, que tinha o mesmo destino e partiu de Santa Cruz de la Sierra (BOL), compreendia pouco menos de 3 mil km. O plano inicial para o voo da Chapecoense previa uma escala em Cobija, já que a autonomia original (isto é, a capacidade máxima de voo) da aeronave modelo Avro RJ85 utilizada pela LaMia era praticamente a mesma da distância total. Em casos como esse, as regras internacionais de aviação exigem pousos para reabastecimento.

Assim como a Chapecoense, o paraguaio Sol de América viajou a Medellín para enfrentar o Atlético Nacional pela Copa Sul-Americana – acabou derrotado por 2 a 0 e eliminado nas oitavas de final. Sem encontrar voos comerciais que pudessem fazer o trajeto de Assunção até a Colômbia em prazo satisfatório, o clube procurou fretar uma aeronave com o apoio da agência de viagens paraguaia Comdetur, e assim chegou à LaMia.

– Nunca tinha ouvido falar desta empresa, então tomamos algumas precauções, como saber a experiência dos tripulantes – afirmou ao GLOBO Carlos Giagni, vice-presidente do Sol de América, que garante não ter ocorrido qualquer problema. – Eu estava naquele voo. A aeronave, inclusive, não levou apenas o clube, mas também jornalistas e familiares de jogadores. Eles cumpriram nossos horários, só tivemos que fazer uma parada em Cobija para colocar combustível.

A escala para reabastecimento, no entanto, foi omitida pela LaMia ao entregar o plano da viagem para a agência de viagens, segundo explicou ao GLOBO Justo Ramirez, diretor e um dos sócios da Comdetur:

– Apenas na véspera da viagem eles nos informaram que haveria uma escala em Cobija. Disseram que era necessário para que aquela viagem fosse concluída com segurança. E primeiro falaram que perderíamos apenas meia hora, mas ficamos mais de 1 hora até decolar novamente – disse Ramirez.

EMPRESA RECOMENDADA INFORMALMENTE

Ramirez negou que a LaMia – ou qualquer outra empresa aérea – fosse recomendada pela Conmebol aos clubes para viagens de competições. Segundo o diretor da Comdetur, foi o piloto paraguaio Gustavo Encina, membro da LaMia, quem ofereceu o serviço de frete ao presidente do Sol de América, Miguel Figueredo – um dos sócios da própria Comdetur, agência contratada pelo clube para planejar as viagens. Encina era um dos tripulantes da aeronave que levava a Chapecoense até Medellín, e morreu na queda.

Sobreviventes da tragédia da Chapecoense

– Gustavo (Encina) chegou ao presidente do Sol de América através de um jornalista paraguaio, que era seu amigo e fez essa ponte. O presidente do clube lhe explicou que nossa agência era a responsável por planejar as viagens do Sol de América, e foi então que eles nos procuraram para entregar a proposta. Procuramos informações com diretores do Olimpia (PAR), que já haviam viajado com a LaMia, e eles não fizeram críticas à empresa – lembra Ramirez.

Ao omitir informações básicas como escalas para reabastecimento, a LaMia seguia uma tática agressiva de marketing, que também envolvia preços baixos, com o intuito de roubar fatias de mercado de uma concorrente: a Chilean Airways, que costumava fazer voos fretados a clubes paraguaios.

Segundo Ramirez, a Chilean Airways vinha apresentando problemas operacionais que desgastaram sua imagem no Paraguai. O diretor da empresa, José Bolívar, chegou a ser detido no país em outubro, acusado de não cumprir um contrato firmado com o Cerro Porteño para uma viagem à Colômbia. Além disso, de acordo com Ramirez, a LaMia fez orçamento de U$ 95 mil para levar o Sol de América até Medellín, proposta 40% mais barata que a da Chilean Airways, que pedia U$ 135 mil pelo mesmo trajeto.

José Bolívar, o diretor da Chilean Airways, acusou a Conmebol de ter acordos ocultos com a LaMia, e afirmou ao portal “ABC Color” que tinha documentos para comprovar sua denúncia. Procurado pelo GLOBO, Bolívar não foi encontrado. Já as assessorias de Olimpia e Cerro Porteño não retornaram as ligações da reportagem.

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