Cotidiano

Justiça peruana reconhece que detidos foram queimados em fornos na era Fujimori

LIMA ? A Justiça peruana reconheceu pela primeira vez que durante o governo de Alberto Fujimori foi usado um forno para queimar os corpos de ao menos três presos. Segundo a sentença do processo, os estudantes universitários Martín Roca e Kenneth Anzualdo, junto com o professor Justiniano Navarro, foram detidos em 1993 e levados a uma prisão clandestina nos sótãos do quartel-general do Exército, onde foram torturados e queimados num forno que, segundo peritos, alcançava a temperatura de mil graus centígrados.

Os juízes Aldo Figueroa, Robinson Lozada e Liliana Plascencia condenaram o ex-assessor da Presidência Vladimiro Montesinos a 22 anos de prisão pelo desaparecimento dos três. A sentença indica ainda que Montesinos usou sua condição de chefe de fato do serviço de inteligência para aplicar uma luta política contra dissidentes, que incluía interrogatórios ilegais.

Os corpos foram queimados na unidade de onde Montesinos comandava a Inteligência. A Justiça investiga agora a presença de um outro forno no quartel da região andina de Ayacucho.

? É a primeira vez que uma sentença judicial peruana reconhece a existência de um forno usado para cremar dois estudantes e um professor ? destacou o advogado Carlos Rivera, ativista de direitos humanos do Instituto Defesa Legal. ? Isso mostra os níveis de perversidade com os quais se atuou diante de suspeitos de pertencerem ao Sendero Luminoso ou ao Movimento Revolucionário Tupac Amaru. No caso específico desses desaparecidos, não havia nenhum tipo de vínculo.

A sentença contra Montesinos e o ex-comandante do Exército Nicolás Hermoza foi lida em uma sala da prisão militar de Lima, construída durante a gestão do ex-assessor presidencial, na década de 90. É lá também onde o ex-chefe da Inteligência está detido desde 2001, cumprindo penas por crimes contra a Humanidade e tráfico de armas.

O ex-presidente Alberto Fujimori, que governou o país de 1990 a 2000, foi excluído do caso porque seu processo de extradição do Chile não previa a acusação por desaparecimento forçado. Ele já cumpre pena de 25 anos de reclusão por violações dos direitos humanos.