Cotidiano

Jovem cometeu suicídio 3 anos e meio após tentativa de estupro na Rural

estuprorural.jpgRIO – Uma tentativa de estupro sofrida, há três anos e meio, no alojamento do
campus da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em Seropédica, além de
ficar impune, teve um desfecho ainda mais triste esta semana. A vítima, uma
jovem de 23 anos, aluna do curso de educação física, se matou anteontem, na casa
dos pais, em Nova Iguaçu. Segundo a família, a estudante, que foi sepultada
ontem, não conseguiu superar o trauma da violência.

? Ela reagiu à tentativa de estupro e registrou a
ocorrência na delegacia. Nossa indignação é porque o agressor não foi punido. O
episódio, ocorrido num alojamento da Rural, a afetou totalmente. Ela era uma
menina que estudava e, de repente, não conseguia mais tomar conta de si mesma.
Teve os sonhos interrompidos devido à falta de estrutura e segurança na
universidade. Como você oferece alojamento, se não tem condições de cuidar dos
alojados? É um absurdo ? desabafa a irmã da jovem. Links_violência_mulher

Por meio de nota, a universidade informou que é
solidária à família, aos amigos e aos colegas da estudante. De acordo com a
instituição, o agressor, também aluno da Faculdade de Educação Física, foi
punido pelo Código Disciplinar do Aluno, com repreensão formal e desligamento do
alojamento da Rural, mas não foi afastado do curso. A vítima havia trancado a
matrícula da faculdade em abril.

?ESTAVA EM DEPRESSÃO?

Colegas da jovem contam que ela era integrante da equipe
de líderes de torcida da universidade e chegou a ganhar campeonatos nacionais e
internacionais.

? Ela era uma menina muito alegre, vivia com um sorriso
lindo no rosto. Há mais ou menos um mês, deixou de ir às aulas, dizendo que
precisava se cuidar. Já estava em depressão ? conta uma amiga da vítima, que
preferiu não ser identificada.

PROTESTO REUNIU 200 ESTUDANTES

Em abril, cerca de 200 alunas do campus Seropédica da Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, vestidas de preto, fizeram um protesto contra os casos de
estupro ocorridos na instituição. Segundo elas, somente este ano, três alunas
foram violentadas. As jovens questionavam a ausência de segurança: pouco mais de
40 vigilantes zelam pela integridade de 10.683 estudantes em três turnos, numa
área de mais de 3 mil hectares.

De acordo com a Rural, após a manifestação, houve uma revisão da iluminação e
poda do mato dentro do campus. Também foi feita uma parceria com a prefeitura de
Seropédica para a manutenção da iluminação da ciclovia que dá acesso às
dependências da universidade. A instituição diz ainda que criou uma guarita da
Divisão de Guarda e Vigilância no alojamento feminino e que a licitação para a
contratação de uma empresa de segurança privada para o pórtico está em fase de
conclusão.

ALUNAS FARÃO MANIFESTAÇÃO EM REPÚDIO A ATAQUES

Em protesto contra a morte da estudante de educação física, alunas da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro se mobilizaram e convocaram uma
manifestação para segunda-feira. Elas vão deixar flores no alojamento onde a
vítima da tentativa de estupro morava e levarão cartazes. Para demonstrar
repúdio aos casos de violência sexual ocorridos na instituição, as jovens usarão
batom vermelho e roupa preta. Segundo elas, o último ataque no campus ocorreu em
março. De acordo com a universidade, foram registrados sete episódios de abuso
sexual em suas dependências nos últimos cinco anos.

? As estatísticas oficiais são claramente manipuladas. E não temos
conhecimento de nenhuma punição aplicada a agressores. Uma aluna sofreu uma
tentativa de estupro dentro da universidade, nada foi feito, e esta semana ela
se matou. Isso é totalmente inadmissível ? afirma uma integrante do grupo, que
preferiu não se identificar.

TRÊS VÍTIMAS EM TRÊS MESES

Uma aluna da Rural contou que ocorreram três estupros no campus, entre
janeiro e março. Por conta disso, cerca de 200 estudantes fizeram, em abril, um
protesto contra a violência sexual nas dependências da universidade.

? Depois da manifestação, proibiram festas dentro do campus, mas elas já
estão acontecendo novamente. A Rural aumentou as rondas da guarda, melhorou a
iluminação e cortou o mato em alguns lugares. Mas medidas efetivas não foram
tomadas, pelo menos que tenhamos conhecimento. Exigimos que a faculdade dê
prioridade à resolução dos processos administrativos contra estupradores e dê,
de fato, assistência às vítimas.

A Rural afirma que o processo administrativo referente ao agressor da
estudante atacada em março deste ano está em fase de conclusão.

A instituição diz ainda que criou uma guarita da Divisão de Guarda e
Vigilância no alojamento feminino e que a licitação para a contratação de uma
empresa de segurança privada para o pórtico está em fase de conclusão.

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