Cotidiano

José Luiz Villamarim estreia como diretor de longa na Première Brasil

redemoinho.jpgRIO – Depois de abrir a Première Brasil nesta sexta com a leveza de “Vermelho russo”, a mostra do Festival do Rio deu uma curva de 180 graus e exibiu, na noite deste sábado, o denso drama “Redemoinho”, de José Luiz Villamarim, para uma plateia que lotou o Cine Roxy. Ainda tomado pelo peso dos trágicos eventos relatados no primeiro longa-metragem do diretor, o público de convidados pareceu precisar de alguns segundos para levantar a tradicional leva de aplausos nos créditos finais.Links Première Brasil

A expectativa era grande, já que Villamarim virou um dos nomes mais aclamados da teledramaturgia contemporânea, sendo responsável pela direção de minisséries como “Justiça”, “O rebu” e “Amores roubados”.

Em sua primeira incursão no cinema, o realizador conta a história de dois amigos, Luzimar e Gildo (Irandhir Santos e Julio Andrade, respectivamente), que se reencontram em Cataguases, no interior de Minas Gerais, após anos sem se verem. Gildo construiu uma vida em São Paulo, onde enriqueceu, comprou um carrão e virou pai de família, mas volta à cidadezinha para passar o Natal com a mãe (Cássia Kis Magro). Já Gildo permaneceu no mesmo lugar, casou com uma ex-prostituta (Dira Paes) e trabalha numa fábrica de tecidos.

A sinopse fornecida pelo festival avisa que o reencontro dos velhos amigos desencadeia um “intenso e turbulento mergulho na memória” e um “perigoso acerto de contas”, mas a exatidão dessa informação só pode ser avaliada, talvez, pelo espectador. Isso porque o roteiro de George Moura (inspirado na obra do escritor cataguasense Luiz Ruffato) não é explícito, até os seus momentos finais, sobre o que de fato aconteceu no passado. E o tal acerto de contas está mais para provocações entre bêbados do que duas pessoas adultas dispostas a conversar sobre o que as incomoda tanto. Confira os filmes da Première Brasil do Festival do Rio 2016

O reencontro acontece por acaso, e, a princípio, a relação de ambos parece ser amigável, ainda que os dois tenham personalidades opostas. Enquanto Luzimar é composto como um homem discreto e educado, Gildo é destemperado, trata a mãe com certa grosseria e começa a beber ainda de dia para terminar já quase na hora da ceia. Porém, ao longo da projeção, fica claro que uma ferida do passado ainda está aberta, o que se reflete nos personagens através de olhares desconfortáveis e hostilidades pontuais. Após muitas palavras não ditas (e muita cerveja ingerida), a tensão finalmente culmina num clímax dramático.

Assim, Villamarim parece mais interessado em explorar a crescente tensão no ar que pode existir quando um incidente do passado de repente volta para assombrar. O conceito é reforçado pela bela fotografia de Walter Carvalho, cuja câmera, em sua maior parte do tempo parada, espreita os seus personagens através de brechas nas paredes, máquinas barulhentas e corredores escuros.

Na plateia estava grande parte do elenco principal. Julio Andrade se emocionou quando Villamarim lembrou que a sessão acontecia justamente no aniversário de 40 anos do ator.

? Quando o Ruffato assistiu a esse filme, ele disse que se tratava de um filme necessário. Espero que vocês concordem ? disse o diretor, antes da sessão. ? Nesse momento de muitas telas, vir ao cinema é quase uma tarefa de missionário.

Mais cedo, foi exibido o documentário “Divinas divas”, de Leandra Leal, que aborda a vida de travestis pioneiras nos palcos. Através de entrevistas com ícones como Rogéria, Jane Di Castro, Divina Valéria, Camille K, Eloína dos Leopardos, Fujika de Halliday, Marquesa e Brigitte de Búzios, a agora cineasta se aprofunda em temas como preconceito e a relação das personagens com a família.

A mostra competitiva da Première Brasil continua neste domingo, com a exibição de duas ficções: “Comeback”, de Erico Rassi, e “Fala comigo”, de Felipe Sholl. Os filmes imperdíveis do Festival do Rio 2016