Cotidiano

José Borbolla, gerente de marketing: 'Novos meios exigem novas metodologias'

“Tenho 34 anos e nasci e vivi 99% da minha vida em São Paulo. Sou formado em Educação Física e fiz um ano de Ciência da Computação, mas larguei. Trabalhei em muitas áreas. Fui técnico de basquete, funcionário público e trabalhei em uma escola bilíngue. Depois enveredei para a publicidade.”

Conte algo que não sei.

Nos próximos cinco anos, mais três bilhões de pessoas serão conectadas à internet. Isso deve transformar muito a forma como elas se relacionam, a forma como buscam informação e como aprendem. Haverá um impacto no tecido social a ponto de transformar as instituições e o mundo como os conhecemos.

Quando você começou a se interessar por esse assunto?

Eu participava de um grupo de discussão na Universidade de Brasília, e começaram a surgir algumas referências fora da caixa. Uma delas era o livro “A teia da vida”, de Fritjof Capra. Foi aí que a minha cabeça se abriu para a ideia de interdependência das coisas e nasceu a minha paixão pelas redes.

As escolas estão adaptadas a esses novos tempos?

Ainda há a ideia de dar um computador para o aluno e colocá-lo para fazer a mesma prova que faria fora do computador, usando o teclado no lugar da caneta. Novos meios exigem novas metodologias. Não tenho essa visão ferramental da tecnologia aplicada à educação. Inovação em educação é repensar relações: do papel da escola na vida do aluno, das interações que vão acontecer naquele espaço.

A ideia de boa escola ainda é associada à ideia de escola que aprova no vestibular. O que acha disso?

Estabelecer aprovação em vestibular como métrica de sucesso em educação é uma visão extremamente restrita, pobre e triste. Isso reduz o papel da escola na vida do aluno. Quando olhamos tudo que está acontecendo no mundo, vemos que a escola tradicional, em geral, está muito distante de conseguir preparar seus alunos para o mundo que virá. A profissão que uma criança de hoje exercerá quando for um adulto sequer existe. Em geral, a escola como instituição está sendo lenta em se redesenhar e se ressignificar. O problema é que as mudanças vão acontecer cada vez mais rapidamente. Quanto tempo a escola tem para se reinventar?

Como podemos usar a “hiperconexão” ao nosso favor?

Essa ansiedade em relação à hiperconexão tem a ver com o fato de o nosso cérebro ter tido poucas mudanças estruturais nos últimos milhares de anos. Ele é muito parecido com o cérebro dos nossos antepassados, que viviam caçando. Há uma lacuna entre um pedaço do nosso corpo e essa realidade completamente nova. Cabe a nós reinventarmos essa relação para mitigar riscos.

Como é falar de inovação em um momento de instabilidade política e econômica?

Percebo uma visão pessimista das pessoas que têm mais de 40 anos, mas, por outro lado, a moçada de 20 olha para isso como oportunidade histórica de construir um mundo que faça mais sentido. É interessante olhar e conversar com essas pessoas para ver as coisas com outro viés. Acho, também, que uma parcela da mídia tem responsabilidade nessa visão pessimista. Há muitas histórias legais acontecendo sem serem contadas.

Para você, qual seria um modelo econômico justo?

Seja qual for a narrativa, ela precisará dar conta da finitude de recursos naturais e impacto ambiental que os modelos hoje vigentes causam ao planeta. E, assim como usar o vestibular como métrica de sucesso para a escola vem deixando de fazer sentido, usar o PIB como indicador de sucesso de um país também não vai fazer sentido. Na hora em que acharmos uma equação que leve em conta a natureza e outros elementos não financeiros estaremos mais perto dessa resposta.