Cotidiano

Jornalista Vladimir Netto lança livro sobre a Lava-Jato no Rio

vladimir-nettoRIO ? O jornalista Vladimir Netto enviou o texto final para a gráfica no dia em que o agente Newton Ishii, o “Japonês da Federal”, foi preso pela própria corporação que o alçou à fama. Conhecido por escoltar inúmeros executivos, políticos e operadores no caminho até a sede curitibana da Polícia Federal, Ishii, sem saber, iniciou outro capítulo de uma história que começou a ser contada.

? Já comecei a fazer anotações e a apurar para escrever o segundo livro. As revelações da delação premiada do Fábio Cleto (ex-vice-presidente da Caixa) e a prisão do (doleiro) Lúcio Funaro são muito relevantes ? diz Netto, em relação aos fatos mais recentes da Operação Lava-Jato.

Vladimir Netto

O repórter da TV Globo lançou nesta quinta-feira, no Rio, o livro “Lava-Jato ? o juiz Sergio Moro e os bastidores da operação que abalou o Brasil”. Recheada de histórias inéditas, a publicação é uma extensa reportagem e abrange os primeiros dois anos da operação, entre março de 2014 e maio de 2016. Detalhes curiosos, como o empreiteiro em abstinência que aproveitou um curto deslocamento para pedir um cigarro ao onipresente Ishii, estão lá. Histórias mirabolantes, como a do agente da Polícia Federal que se fingiu de milionário e acionou um corretor para visitar uma casa no mesmo condomínio reservado onde morava Marcelo Odebrecht, ex-presidente da construtora, também são contadas. Neste caso, o imóvel continuou à venda, mas os investigadores passaram a conhecer em detalhes o caminho que os levou rapidamente à casa do empresário no dia da prisão.

? Queria fazer um livro que trouxesse também elementos policiais e de ação. Gostei especialmente de revelar os detalhes da prisão do Marcelo Odebrecht, a reação do (ex-senador) Delcídio (Amaral) à prisão e de fazer a reconstituição do episódio em que o (Alberto) Youssef (doleiro) quase fugiu antes de ser preso ? enumera o jornalista.

A primeira tiragem, de 30 mil exemplares, já está esgotada, o que levou o livro ao primeiro lugar da lista de mais vendidos, entre as publicações não-ficcionais. Uma nova impressão, também de 30 mil cópias, já está nas livrarias. Os direitos foram vendidos para o cineasta José Padilha, que vai produzir uma série sobre a Lava-Jato para o Netflix.

? Acho que a Lava-Jato não é obra de um homem só, mas, de qualquer forma, o Moro será sempre lembrado ? diz Netto, sobre a escolha do juiz como fio condutor da história.

A jornalista Míriam Leitão, colunista do GLOBO e mãe do autor, destaca o ritmo “intenso” do livro:

? O texto mantém o clima dos acontecimentos, que estão sendo noticiados com intensidade, e traz novidades. Tem também um trabalho intenso de checagem, ouvindo todos os lados, como deve ser feito no jornalismo.

A narrativa, criteriosa e bem contada, foi capaz de fazer defesa e acusação concordarem. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o advogado de uma das maiores empreiteiras do país compareceram ao lançamento em Brasília, anteontem, e fizeram elogios ao livro. Uma questão permaneceu intacta: o defensor, claro, não perdeu a oportunidade de espezinhar Moro.