Cotidiano

Jornalista mineiro compila tiradas espirituosas de figuras públicas em livro

ori_400b1494bb5dbe7ff87047e6f8d64951.jpeg RIO ? O jornalista mineiro Márcio Bueno tem um hobby curioso: desde os anos 1970, coleciona histórias de grandes frasistas de várias áreas da vida pública, como artistas, atletas, políticos e outras figuras. Ele se concentra em frases faladas, não nas escritas. Está sempre atrás daquelas tiradas espirituosas que surgem de improviso em entrevistas, debates, brigas ou conversas particulares. Com o passar dos anos, compilou um acervo de centenas de anedotas, base do livro ?Faíscas verbais: a genialidade na ponta da língua? (Editora Autêntica), que Bueno lança na quarta-feira, às 19h, na Travessa de Botafogo (Rua Voluntários da Pátria 97).

Autor do best-seller ?A origem curiosa das palavras?, lançado em 2002, Bueno atribui seu amor pelo tema ao convívio na infância com a sagacidade mineira dos parentes em Muzambinho (MG), onde nasceu. ?Faíscas verbais? é organizado como um almanaque, em que os frasistas são divididos por área de atuação. Entre os políticos, há desde Leonel Brizola a Carlos Lacerda. Na seção de atletas, Romário, Garrincha e Neném Prancha. Na ala dos artistas, Tim Maia, Ary Barroso, Tom Jobim e muitos outros.

Bueno começou recolhendo histórias em jornais e revistas. Quando decidiu fazer o livro, ampliou a pesquisa para biografias e livros de referência e fez também uma série de entrevistas. Assim, desmontou alguns mitos sobre lemas célebres do anedotário nacional. Atestou, por exemplo, que foi o cartunista Jaguar quem disse, numa entrevista a Paulo César Pereio, a frase ?bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comia?, muitas vezes atribuída a Jânio Quadros. Mas outro clássico atribuído a Jaguar ? ?intelectual não vai à praia, intelectual bebe? ? na verdade é de Paulo Francis, diz Bueno.

? Grandes frases, como essas, entram para a cultura popular ? ressalta.

Ele admira os frasistas do mundo do esporte, como o centroavante Dadá Maravilha, pai da ?solucionática?, e o jornalista e treinador João Saldanha, que teria sido demitido da seleção antes da Copa de 1970 por enfurecer o ditador Médici com uma de suas tiradas mordazes (?O presidente escala o ministério dele e eu escalo o meu time?).

Mas é no mundo da política, diz Bueno, que estão os frasistas mais eloquentes. Ou estavam.

? Independentemente da ideologia, políticos sempre tiveram o dom da oratória. No Brasil, isso valia para um Brizola ou um Lacerda, por exemplo. Mas hoje o nível está muito baixo. Na votação do dia 17, por exemplo, só falaram de seus parentes e de suas cidades, uma coisa provinciana. Não pareciam deputados, e sim vereadores federais ? diz Bueno, cunhando uma ?faísca verbal?.