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Jornal inglês diz que Jogos do Rio já são marcados pela bagunça

A Olimpíada de 2016 ainda nem começou, mas o Rio de Janeiro já tem um título a ostentar: o de Jogos mais bagunçados até o momento. Pelo menos essa é a opinião do jornal “Guardian”. Em um texto assinado pelo jornalista David Goldblatt, o veículo inglês faz duras críticas à organização da Olimpíada.

“Os preparativos têm sido muitas vezes uma vagunça, mas no acumulado, o Rio ainda pode se tornar o mais desordenado (dos Jogos). E não importa o quão especial (podem ser) os Jogos, um desastre sem precedentes já terá acontecido”, diz um trecho.

No texto, o jornalista faz um breve histórico dos últimos quatro anos do Brasil e do Rio de Janeiro. Cita os problemas de corrupção do país, o impeachment da presidente Dilma Rousseff “causado por um Congresso corrupto”, as manifestações que tomaram as ruas em 2013, a ameça do vírus Zika, que fez diversos atletas desistirem de viajar para competir, os terroristas presos nas últimas semanas, além do crime organizado e a escalada de violência no Rio de Janeiro nos últimos anos. Todos problemas que tornaram a organização dos Jogos um desafio a mais.

O “Guardian” lembra ainda outras edições dos Jogos marcadas por graves problemas. Desde a primeira da era moderna, em Atenas-1896, quando havia rumores de que o estádio olímpico não ficaria pronto a tempo, passando pela ocupação francesa do Vale do Ruhr e da inundação do Rio Sena no inverno de 1923, que colocou em questão a realização dos Jogos de Paris-1924, até chegar aos problemas causados pela grande depressão que prejudicou os Jogos de Los Angeles-1932 e aos graves problemas de Atlanta-1996, uma Olimpíada ainda marcada por um atentado terrorista.

O “Guardian” lembra ainda que, em 2014, John Coates, membro do Comitê Olímpico Internacional (COI) havia declarado, em visita ao Rio em 2014, que a preparação dos Jogos de 2016 era “a pior já vista”.

Apesar de tudo, o jornal acredita que tudo estará pronto a tempo para que, ao menos dentro das quadras, piscinas e pistas, os Jogos sejam um sucesso. E para explicar isso, usou de uma ironia, citando a Olimpíada de Atenas-2004, considerada uma das piores do ponto de vista de organização.

“Francamente, se Atenas conseguiu ficar pronta na noite de abertura, qualquer um pode ficar. Em nenhum lugar, mesmo entre os notoriamente atrasados cariocas, isso (a entrega das estruturas) foi feito tão bem quanto os atenienses com suas arenas e seus espaços olímpicos”.

PROBLEMAS NA VILA OLÍMPICA

O texto ainda cita os recentes problemas na Vila Olímpica envolvendo a delegação australiana. A equipe abandonou o local no domingo e só voltou nesta quarta-feira depois que os prédios foram reparados. Algo semelhante só teria acontecido em Londres-1908, quando a equipe americana disse que as instalações disponibilizadas para ela eram “insatisfatórias”, fazendo a delegação se mudar para Brighton.

“Tudo isso torna esta edição dos Jogos a pior preparada de todas? Provavelmente. Mas a este Brasil se acrescentou um grau de caos político, financeiro e administrativo próprios. A Coreia do Sul (1988) estava tumulto um ano anotes dos Jogos, envolto em uma luta tectônica pelo poder, mas na cerimônia de abertura as ruas estavam em paz e uma transição para a democracia tinha sido executada. Apenas os maciços protestos estudantis do verão de 1968 e o terrível massacre de ativistas antes dos Jogos do México chegam perto do caos do Brasil. E aquilo foi tudo silenciado”.

ELOGIOS À TRANSPARÊNCIA

Mas nem tudo são críticas no texto. “O Guardian” elogia a determinação do Rio em fazer tudo com transparência, apesar dos seus pecados.

“Essa transparência inadvertida, uma exposição tão tangível da destruição do que resta dos mitos do urbanismo Olímpico, e a autonomia política e probidade moral do COI, podem ser o legado histórico do Rio. Por mais espetacular que algo possa acontecer nos 17 dias de Jogos, sem dúvida, o desastre já acontece, é de proporções sem precedentes, e não pode ser escondido”.

O texto cita ainda a disposição do Rio em construir menos elefantes brancos do que Olimpíadas anteriores.

“O Rio evitou construir ícones arquitetônicos caros, optando pelo maçante, o funcional e o temporário. Consequentemente, produziu menos e mais baratos elefantes brancos do que os líderes neste campo, Atenas-2004 e Pequim-2008.

Mas o jornal concluiu que nada tira do Rio um lugar de destaque entre os Jogos mais problemáticos da história.

“No grupo dos múltiplos desastres e injustiças, a história parece oferecer ao Rio uma margem de manobra. Atenas foi a mais atrasada e produziu mais elefantes brancos, Sochi foi tão corrupta quando um desperdício, Pequim foi mais repressiva, os deslocamentos de Seul foram mais generalizados e a limpeza social foi mais completa. No entanto, o Rio está dando a todos eles uma corrida pelo prêmio e adicionando suas próprias injustiças e dissimulação vergonhosa”.