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João Carlos Martins vai tocar sua versão do hino nacional na cerimônia de abertura

A ideia é tocar em um ritmo mais lento. Em seu formato original, as notas são muito rápidas impedindo que toda a beleza do hino nacional seja apreciada como deveria, assim pensa o maestro e eterno pianistas João Carlos Martins, que é um dos pontos altos da cerimônia de abertura, nesta quarta-feira, no Maracanã. Portador de Lesão por Esforço Repetitivo (LER) nas mão e que já fez 22 cirurgia para amenizar o problema, o maestro, de 76 anos, vai tocar o hino nacional, ao seu jeito, na festa em uma apresentação que deve durar de três minutos.

? O hino brasileiro é um dos mais lindos do mundo. É preciso que ele seja tocado devagar para que esta nobreza seja apreciada. O hino mostra a dignidade de uma nação, apresenta um sentimento de orgulho. E é isso que busco transmitir ? disse.

Para a festa paralímpica, João fez um único ensaio, ontem, no Maracanã. Ainda está um pouco preocupado com a sua roupa, pois não sabe exatamente o que vai vestir. ?O alfaite veio e tirou minhas medidas, mas não tenho a menor ideia do que será?, disse João, ao telefone. Tocar o hino, no entanto, não será novidade em sua carreira. Segundo ele, um dos momentos mais emocionantes de sua vida foi ter tocado o hino na cerimônia do Parapan do Rio, em 2007. Nesta ocasião, ele teve apenas um único ensaio, mas que durou 18 horas. Ontem, o ensaio durou cerca de uma hora no Maracanã.

? Tocar o hino não é novidade para mim, e já aconteceu algumas histórias curiosas. Em 1998, recebi uma comenda do então presidente Fernando Henrique Cardoso, que me pediu para tocar o hino na cerimônia. Aceitei o convite, mas toquei do meu jeito, mais lento. Depois, fomos descobrir que o hino só pode ser tocado em seu formato original no Palácio do Planalto. Mas lembraram disso só na hora. Aí, depois tiveram que fazer um decreto ou uma medida provisória para aprovar o que eu tinha feito ? recorda o maestro.

Apesar da idade enquadrá-lo como idoso, o maestro está longe de aposentadoria. Seu pai viveu mais de 100 anos apesar de ter sido diagnosticado com um câncer fatal aos 37. Na cabeças de João Carlos, a genética lhe é favorável e ele vai seguir trabalhando até o fim de seus dias. Antes da cerimônia de hoje, ele rodou o país para apresentar um concerto nas capitais por onde a tocha paralímpica passava. Sua chegada ao Rio foi ontem. E, hoje, além da cerimônia de abertura, ele também será um dos condutores da tocha na parte da manhã.

? Um agente da Força Nacional que fez a segurança de todo o trajeto da tocha me disse que eu fui o único a conduzi-la nas olimpíadas e nas paralímpiadas ? disse.

Por ano, João diz que apresenta uma média de 160 concertos. Ele anda animado com um filme, dirigido por Mauro Lima, que contará a história de sua vida no piano, a ser lançado em maio do ano que vem. Toda as notas musicais do longa metragem foram 100% feitas por João Carlos. Mas ele diz que a parte da dramaturgia contém apenas 50% de verdade apesar das histórias terem sido baseadas em suas experiências.

Sobre sua vida com LER, ele diz que ser um caso de teimosia e paixão pela música, mas que a palavra superação não é correta em seu caso. Segundo ele, muitos deficientes se inspiram em sua história para buscar uma melhor adaptação à nova vida, mas, na verdade, João Carlos diz que é nos paralímpicos, além da música, que ele busca inspiração para seguir adiante.