Cotidiano

Joalheiro do Recreio faz peças únicas com ouro, prata e pedras estrangeiras

2016 921342564-201607050125091195.jpg_20160705.jpgRIO ? Ao som de clássicos musicais, fios de prata são transformados em peças exclusivas no ritmo impresso pelas mãos do joalheiro Christopher Gui, de 53 anos. Civilizações antigas, como a egípcia ou a suméria, inspiram suas quatro coleções anuais. A próxima linha, ainda em fase de criação, baseia-se na força da deusa Durga.

? É uma deusa indiana conhecida como invencível. Escolhi esse tema porque acho que as mulheres estão lutando muito para conseguir espaço no mercado de trabalho, e a deusa é justamente isso, uma guerreira ? diz Gui, que começou a carreira como bailarino.

As joias podem ser de prata e de ouro e cravejadas com pedras vindas de países como Afeganistão e Birmânia. Os materiais ganham forma com o calor de um maçarico. Sua rotina de trabalho tem entre seis e 12 horas, e as peças podem levar até seis meses para serem finalizadas. Em sua casa-ateliê, no Recreio, Gui conversa com os clientes para conhecer, minimamente, a história de cada um. Não faz moldes, propositalmente, para que não haja reprodução. Cada joia carrega significados singulares, ressalta.

? A peça tem que ser algo único. Eu vejo a joia como uma representação da personalidade de quem a usa. Como ninguém é igual a ninguém, não tem como fazer peças iguais. Digo que o capitalismo está se tornando um comunismo disfarçado, em que todo mundo veste a mesma roupa. Muita gente não está buscando identidade e individualidade ? filosofa o artista.

O simbolismo de cada peça se reflete na criação. As alianças de casamento estão entre as mais procuradas, e recebem tratamento especial. A essência de neroli, tida como a da paixão e do desejo, é um dos elementos utilizados.

? Busquei o conceito de preparo dos antigos alquimistas para as alianças. Na lima que uso para serrar o metal e separar as duas, passo cera de abelha e um pouco de mel. No conceito, o ato de limar é referente aos atritos que o casal vai ter, e o mel é para que isso seja amenizado. Depois, para resfriar o metal, utilizo água de rosas, para que o amor seja eterno ? conta.

2016 921342174-201607050116101184.jpg_20160705.jpgGui adquiriu interesse em joalheria ao ler um livro de Marcel Vogel, uma referência no estudo de cristais. O material chegou às mãos do artista enquanto ele preparava um espetáculo de balé, no qual, entre outras funções, tinha de criar o figurino.

Durante oito meses de curso no Senai, em 2001, onde teve aulas com Elizabeth Franco, profissional conceituada na área de criação de joias, Gui foi forjando a identidade de seu trabalho. Um anel com bolinhas de prata foi a primeira peça que criou. As folhas, outro elemento-chave em suas joias, foram inspiradas no trabalho que sua mãe fazia em estampas de tecido, quando ele era criança. Após um ano de testes, julgou ter chegado às condições ideais em termos de materiais e processos e considerou sua técnica desenvolvida. Uma particularidade é o uso de uma base de madeira que modela as peças sem deixar marcas.

No currículo, o artista tem passagem pelo Atelier Mourão, ao lado da designer Paula Mourão, em 2002. Apaixonado por artes, Gui também pinta, há um ano, e tem mais planos:

? Chopin é meu ídolo desde os 9 anos. Daí veio minha vontade de tocar piano. E quero aprender a cantar, porque sou apaixonado por ópera.