Cotidiano

Jason RM Smith, especialista em efeitos visuais: 'A trajetória da inteligência artificial é irreversível'

“Tenho 45 anos, vivo em São Francisco. Meu pai comprou um computador quando eu tinha 9 anos. Aprendi a programar, e fui estudar arte, filmes e animação. Trabalhei para as maiores empresas de jogos, como Eletronic Arts e Lucas Films, até abrir a minha SoMa-Play. Jogos são tecnologia de mudança constante. É desafiador e excitante.”

Conte algo que não sei.

Os jovens, hoje, sentam satisfeitos para assistir a outras pessoas jogarem videogames, no YouTube, por exemplo. E preferem fazer isso do que assistir a um filme ou outras formas de audiovisual. Na geração anterior à minha isso não existia. E na minha geração era um mercado quase inexistente. Começou a se tornar massivo, através do Facebook e dos jogos para celular. E é mais divertido do que muitas das mídias mainstream criadas por profissionais.

Qual é o futuro dos jogos eletrônicos para você? Que limites serão quebrados?

Jogos como mídia de entretenimento, como conhecemos hoje, indo a uma loja e comprando um, ainda vão existir. Há uma tendência de gamificação, nos últimos cinco ou dez anos. Prestamos consultoria para algumas companhias que não são da área de jogos, incluindo companhias médicas, que querem tornar os seus produtos mais engajadores e com maior apelo ao consumidor. Jogos são uma mídia de entretenimento, há uma participação maior do usuário, e acho que isso vai romper a barreira e estar presente em todas as coisas com as quais interagimos. Vamos ver a realidade aumentada se tornando popular e mais aceitável.

O que acha da gamificação?

É um caminho natural. O que é interessante é que grande partes do jogos para dispositivos móveis são de graça. É muito importante hoje, para ter qualquer tipo de sucesso, entender o engajamento do usuário, é uma área crítica. E uma grande parte dessas técnicas tem sido usada por todas as formas de entretenimento interativo. Vejo que outros tipos de negócio começaram a perceber que existe uma oportunidade ali. E acredito que irá se transformar em um mercado muito grande. As pessoas vão entender que gamificação não se trata de premiar as pessoas com medalhas.

Jogos ajudam a desenvolver a inteligência das crianças?

O tempo que as crianças passam jogando tem que ser cuidadosamente monitorado. Mas sabemos que, ao aprender, retemos uma informação mais rápido se estamos fazendo algo que gostamos. É uma grande oportunidade, e isso acontece de maneira muito lenta, o que é desapontador.

Você assistiu Black Mirror? A inteligência artificial algum dia alcançará os níveis mostrados na série? Onde você consegue substituir pessoas por robôs idênticos?

Espero que sim, porque gostaria de substituir algumas pessoas (risos). Mas, se Stephen Hawking tem medo da inteligência artificial, eu também tenho. Se ele está preocupado, todos deveríamos estar. Não há dúvidas de que os estudos sobre isso estão começando a tomar um caminho interessante. São grande planos e grandes movimentos que precisam serem levados a sério. Precisamos considerar como a inteligência artificial pode impactar a nossa vida diariamente. É uma trajetória irreversível, mas não tenho como especular onde irá nos levar.

Se atingirmos um nível elevado de inteligência artificial, a Humanidade irá se sair bem?

O impacto seria muito grande, e uma coisa que preocupa é que vamos ver muitos trabalhos não qualificados sumirem, como aconteceu na época da revolução industrial e na revolução robótica na indústria. Vemos isso acontecer de uma forma acelerada. Acredito que seja inevitável, mas irá tornar as coisas difíceis para algumas pessoas.