Cotidiano

Jacqie McWilliams, psicóloga: 'Somos muito mais que atletas'

201606131432200021.jpg“Nasci no Colorado, Estados Unidos, e, desde pequena, sempre pratiquei
esportes. Na universidade, como bolsista, joguei vôlei e handebol. Hoje, sou
diretora da Associação Atlética Interuniversitária Central (CIAA), uma das
divisões da conferência nacional do esporte universitário.”

Conte algo que não sei.

As pessoas não têm noção do que representa a CIAA. Somos
um dos três torneios de basquete mais importantes dos EUA. Atraímos 200 mil
pessoas a uma cidade durante uma semana e geramos impacto de US$ 57 milhões na
economia. Os jogos são transmitidos em todo o país.

Como funciona o esporte universitário nos EUA?

A NCAA é a entidade máxima e gerencia todos os torneios universitários no
país. O CIAA faz parte da segunda divisão da NCAA. Nosso torneio mais forte é o
de basquete, mas há dezenas de esportes. Não temos tanto dinheiro quanto a
primeira divisão, mas o suficiente para patrocinar as bolsas dos alunos. Há
investimento federal e também das universidades privadas, em bolsas.
Independentemente da divisão, poder disputar campeonatos entre universidades e
obter uma graduação ao mesmo tempo é espetacular. Essas pessoas carregam esse
orgulho para sempre, inclusive atletas profissionais, como Stephen Curry, no
basquete.

O modelo universitário é o melhor para se tornar uma potência
olímpica?

O principal é que as universidades dão a oportunidade de
as pessoas se manterem ativas por meio do esporte. Medalhas são consequência.
Mas, com certeza, a competição universitária é um bom ponto de partida para uma
política esportiva e, nos EUA, serve para treinamento e recrutamento de atletas
de ponta.

Os torneios também movimentam muito dinheiro.

Nos EUA, todas as oportunidades para expor os atletas e
atrair a mídia são aproveitadas. E a comunidade de esportistas e a de
espectadores é gigante. Com isso, conseguimos muitos patrocinadores, com impacto
em diferentes campos: esportivo, econômico, educativo e social.

Você jogou basquete pela sua universidade. O que mudou, desde
então?

Nos EUA, as crianças começam a praticar esportes antes dos 5 anos. Agora, há
muito mais estrutura. Morei perto do Centro de Treinamento Olímpico e, criança,
passava muito tempo lá, acompanhando treinos. Tive grandes técnicos. Joguei
basquete e vôlei como bolsista em Hampton, universidade de negros em Virginia.
Ganhamos a NCAA em 1988, foi sensacional.

Ainda há o preconceito de que negros só chegam às universidades
pelo esporte?

A situação do racismo está melhor do que quando eu era
criança, mas longe do ideal. Fui a primeira negra a ser diretora da CIAA e das
três divisões da NCAA, envolvendo mais de 90 associações. Nos EUA, há poucas
negras com meu status. Mesmo no esporte, havia muito preconceito, como no
futebol americano, em que negros só serviriam nas posições de corredores, e não
de estrategistas. Até hoje perguntam se há técnicos negros capazes para a NFL
(liga de futebol americano). Mas, aos poucos, vamos ocupando espaços. Somos
muito mais que só atletas: temos um presidente negro, grandes médicos,
engenheiros, diretores de universidades. Queremos ter representatividade.

A universidade negra ainda atrai os jovens?

Atletas notáveis estudaram em universidades negras (HBCU), até porque não
tinham para onde ir. Os tempos mudaram, e a percepção sobre a universidade
negra, também. Hoje, nossas instituições sofrem com um olhar estereotipado.
Temos que mudar essa visão.