Esportes

Já que não dizem ?Little Hillbilly?...

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Muita gente boa discorda, o assunto é apaixonante, e as queixas sempre voltam à tona: por que diabos hoje se escreve ?Paralimpíada” se por tantos anos dissemos ?Paraolimpíada??

Há duas razões. A pragmática veio depois e favoreceu a primeira: o fortalecimento da palavra ?Paralímpico? evitaria que seu comitê, o IPC, pagasse direitos da marca ?Olímpico?, dominada pelo COI e defendida com unhas e dentes. Que o diga a livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, notificada em junho pelo Rio-2016 pelo uso na vitrine.

( E sim, o IPC pede aos comitês organizadores que padronizem a grafia: rolou aqui e em Barcelona-1992, que também falava ?paraolímpico? antes)

Mas há a história: os esportes surgiram na Inglaterra e ganharam a alcunha ?paralympic?, nos ingênuos anos 1950. Mais do que um processo de formação por prefixação, o que ocorreu foi uma brincadeira verbal: juntar ?paraplegic” com ?olympic” num termo só. Ninguém pensava em prefixos (para-, em grego, significa ?ao lado de”): a ideia era juntar e comunicação diretamente.

Não é o processo mais culto, mas é divertido: pense em ?petrolão? (petróleo + mensalão). Não se convenceu? Que tal ?chocotone?, chocolate com panetone: -late e pane- caem fora e nasce uma palavra de ritmo fácil, com o mesmo número de sílabas de suas ?mães?. Quarentão, lembra de ?chocrível?, chocante + incrível?

?Paralympic? nasceu assim, e derrotou ?Paraolympic?, a forma mais culta, ainda nos anos 1960. Escrever ?Paralimpíada? é uma deferência ao espírito dos inventores ? que, diga-se, nunca ousaram dizer ?little hillbilly” em vez de ?caipirinha”.