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Já credenciado, campeão do Sudão do Sul perde vaga 'sem justificativa'

chuot.jpgMangar Makur Chuot estava de malas prontas. Aguardava apenas os detalhes do voo que o levaria a representar o Sudão do Sul no atletismo da Olimpíada do Rio. Mas o sul-sudanês, hoje refugiado na Austrália, foi cortado do time nacional, sem justificativa, na quinta-feira, acusa o treinador. Como não atingiu o tempo classificatório automático para a prova dos 200m rasos, Chuot havia sido escolhido pelas autoridades do esporte no país, em dezembro, para uma das vagas da cota dos Jogos. Um e-mail de terceiros, no entanto, a oito dias da competição, o avisava que ele só poderia viajar na condição de técnico ou funcionário.

Refugiados 29-07

A mensagem eletrônica registrava que o Comitê Olímpico do Sudão do Sul ? a quem cabe a última palavra sobre os atletas enviados à competição ? não o havia selecionado. Foram nomeados três outros corredores: Santino Kenyi, de 16 anos, para os 1500m; Guor Marial, de 33, residente nos Estados Unidos que já havia corrido em Londres-2012 sob a bandeira olímpica; e Margret Rumat Rumar Hassan, velocista de 19 anos que vai aos 200m femininos.

O secretário da Federação de Atletismo do Sudão do Sul, Jimmy Long, confirmou ao jornal britânico “The Guardian” que ele havia sido escolhido pela federação. Dois dos nomeados, não. ?Não é bom, porque ele é o nosso número 1?, afirmou Long. Sem citar fontes, a publicação informa que apenas atletas avalizados pelas autoridades do atletismo poderiam ser considerados para a cota da seleção olímpica.

?Mangar está arrasado que o time da Federação de Atletismo do Sudão do Sul tenha sido usurpada no último minuto?, disparou ao jornal britânico o treinador de Chuot, Lindsay Bunn, que apresentou queixa formal ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e pediu investigação rigorosa sobre o que considerava poder ser corrupção no processo seletivo. Segundo Lindsay, foram escolhidos “atletas inelegíveis, de resultados inferiores ao do refugiado australiano”. Uma equipe da federação está a caminho do Rio para advogar no caso dele ? mesmo sem ter inglês fluente ou experiência de competição, nesta que será a primeira Olimpíada do país mais recente do mundo.

O secretário-geral do Comitê Olímpico do país, Tong Chor Malek Deran, rebateu que, como nenhum atleta do país alcançou o tempo de qualificação automática, o país teve vagas limitadas, destinadas a apenas um homem e uma mulher. Marial pôde se juntar ao grupo dada a experiência prévia na edição londrina.

?Nós gostaríamos de levar mais atletas, mas as regras estabelecem que não é permitido. Não tivemos o privilégio?, afirmou Tong, que ressaltou o talento do corredor cortado e a quantidade de esportistas classificados para a prova em que Chuot é especialista, segunda mais lotada, com 70 atletas. ?Eu sinto muito mesmo, mas é a situação do Sudão do Sul?.

Chuot é o atual detentor do recorde nacional do Sudão do Sul nos 200m rasos. Foi campeão na Austrália também, em 2014, na mesma prova. Este ano, no entanto, escolheu ostentar a bandeira do país natal em homenagem ao pai, morto na guerra civil sul-sudanesa. Seu melhor tempo, 20.76 segundos, fica 26 centésimos abaixo do índice para o Rio-2016.

Outros cinco sul-sudaneses, atualmente refugiados em um campo do Quênia, vão competir no Rio sob a inédita bandeira do time dos refugiados.