Cotidiano

Intelectuais divulgam carta contra Lava-Jato e prisão de Mantega

SÃO PAULO – Um grupo formado por 106 economistas, professores universitários e outros intelectuais divulgou neste domingo uma carta contra o que considera arbítrios da Operação Lava-Jato. Segundo o texto, a prisão do ex-ministro Guido Mantega, no último dia 22, detido dentro do hospital onde sua mulher faria por uma cirurgia, ?levou o arbítrio a novos limites?, devido à ?fragilidade da acusação? e à ?desproporção da ação?.

O texto faz uma crítica direta ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal, responsável pelos processos da Lava-Jato. ?O combate à corrupção não pode ser um pretexto para corromper a Constituição, autorizar a perseguição política e inflar vaidades de juízes, procuradores e policiais?, diz o texto, que continua: ?Quem vai limitar a arbitrariedade da força-tarefa da Operação Lava-Jato e do juiz Sérgio Moro??

A nota dos intelectuais começa lembrando ?intervenções provocativas, abusivas e desproporcionais por parte da Polícia Militar?, a quem compara com a ?velha polícia das ditaduras?. Embora não cite diretamente, o texto faz uma menção à ação da PM em protestos contra o governo de Michel Temer em São Paulo. Policiais usaram bombas de gás e balas de borracha para dispersar manifestantes diversas vezes seguidas.

Na sequência, o texto afirma que ?o caráter republicano e isento da Operação Lava-Jato já foi posto à prova, e reprovado, inúmeras vezes.? Os intelectuais citam a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, autorizada por Moro em março, um evento, que, segundo a carta ?parecia marcar o auge na exposição pública da arbitrariedade?. ?O episódio da prisão do professor e economista Guido Mantega levou o arbítrio a novos limites?

Diz a nota: ?Se fosse necessário prender Guido Mantega para recolher possíveis provas, por que foi possível soltá-lo tão rapidamente depois que a sociedade conheceu o absurdo de sua prisão, sob alegação de que as diligências para coleta de documentos não seriam prejudicadas se fosse solto? Se não seriam, por que foi expedida a ordem original de prisão desde logo??

Entre os signatários do documento estão os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Luís Carlos Bresser-Pereira e Tereza Campello, além das professoras Marilena Chauí e Maria da Conceição Tavares.