Cotidiano

Instalação de Giancarlo Neri na Olimpíada é cancelada

RIO — A programação cultural das Olimpíada do Rio sofreu mais uma baixa esta semana. O artista italiano Giancarlo Neri soube na quarta-feira que sua instalação “Bar Paris”, composta por 1.415 cadeiras e 1.415 lâmpadas espalhadas na Praça Paris, na Glória, Zona Sul da cidade, fora cancelada. Sua primeira reação foi postar no Facebook uma fotografia do ministro da Cultura, Marcelo Calero, com um texto irônico, em que agradece a ele “por ter cancelado todos os projetos culturais das Olimpíadas 2016 no Rio de Janeiro; inclusive o nosso, claro”. Procurado pelo GLOBO, o ministro da Cultura não pôde falar sobre o assunto. Estava em Istambul, na Turquia, participando de reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco. Ainda era incerto se a reunião continuaria neste sábado, como previsto, devido ao golpe militar no país.

Neri conta que foi convidado a fazer um projeto para a programação cultural das Olimpíadas pelo produtor José Mauro Gnaspini. Criador, em 2005, da Virada Cultural paulistana, Gnaspini desde o início deste ano coordena as ações culturais públicas no Rio durante a Olimpíada e a Paralimpíada. Está ligado à diretoria de serviços da Autoridade Pública Olímpica, com verbas do Ministério da Cultura, através da Funarte.

Só que com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a extinção do Ministério da Cultura e sua posterior recriação pelo presidente interino Michel Temer, os trâmites burocráticos caíram numa espécie de limbo, provocando apreensão a produtores e artistas. Orçamentos foram cortados e programações inteiras, como a da Fundição Progresso, até esta semana dependiam da liberação de verbas para serem tocadas.

— Faço arte pública há 35 anos; arte para o público, e não somente para os amantes de arte contemporânea — disse Neri ao GLOBO, nesta sexta-feira. — Estou de luto hoje. Fiquei dois meses em Roma esperando a resposta.

A realização de “Praça Paris” foi orçada em R$ 632 mil. O valor inclui a compra de materiais (só as cadeiras e as lâmpadas de LED custariam cerca de R$ 35 mil), aluguel de galpão para armazenar esse material, pelo menos quatro seguranças 24 horas durante 60 dias (a instalação abarca uma área de 30 mil metros quadrados), além de transporte, eletricista, remuneração do artista e equipe, gastos com passagem e hospedagem, divulgação e impostos (R$ 70 mil), entre outros.

— Estávamos orçando tudo, trabalhando já, fomos aos galpões, confirmamos. Mas como é um projeto de risco, como tudo na área cultural, dissemos ao fornecedores e prestadores de serviço que só iríamos começar a trabalhar depois de a Funarte assinar o contrato e recebermos a primeira parcela. Todo contrato com o estado é de adesão. Não dá para prever o que vai acontecer — diz Lucas Lins, da R&L Produtores Associados, empresa responsável pela produção da obra.

Neri é bastante conhecido dos cariocas. Em 2012, fez uma instalação no mesmo local, “Máximo silêncio em Paris”, que atraiu milhares de visitantes. O trabalho, composto por nove mil globos luminosos que mudavam de cor, foi realizado originalmente no Circo Máximo de Roma, em 2007, e depois em Madri (2008) e Dubai (2009). No Rio, ainda, ele exibiu outros trabalhos de arte pública, como a iluminação de 76 janelas do Hotel Glória, com uma lua que percorria os andares do prédio (2009) e instalou uma lua cheia cenográfica no terraço do Oi Futuro (2010), em parceria com Marcos Chaves.