Cotidiano

Índios x agricultores: Erros de governos criam clima de rivalidade

Produtores acusam índios de invadir e expulsar proprietários das terras

Laranjeiras do Sul – Um novo foco de tensão entre indígenas e agricultores, na região de Passo Liso, em Laranjeiras do Sul, reacende o debate sobre a questão de áreas reivindicadas por povos nativos em vários cantos do País.

A disputa é antiga, porém acirrada desde o início de dezembro. Os produtores rurais acusam os índios de invadir e de expulsar proprietários de suas terras. A exemplo do que ocorreu recentemente em Guaíra e em Terra Roxa, no Extremo-Oeste do Paraná, há riscos de conflitos também em Laranjeiras do Sul.

O consenso de líderes do setor produtivo e até mesmo de produtores rurais é de que a fragilidade na relação entre agricultores e indígenas, acentuada nos últimos anos, tem origem em um único lugar: a incompetência de sucessivos governos de estabelecer uma política séria de atenção, de valorização e de respeito às comunidades nativas em todo o Brasil.

A omissão e a irresponsabilidade governamentais criaram cenários de disputa, fomentados por oportunistas, que não interessam a absolutamente a ninguém, a não ser a grupos que, em algumas vezes, sequer têm qualquer ligação com o Brasil.

“O tema sempre foi tratado de maneira superficial e a União jamais estabeleceu um diálogo coeso e profundo para pacificar o assunto. Com isso, o que se vê, é o completo abandono dos indígenas em suas reservas e aldeias, onde enfrentam todo tipo de dificuldade”, afirma o presidente do Sindicato Rural Patronal de Cascavel, Paulo Roberto Orso.

Novamente, a falta de planejamento de sucessivos governos criou um clima de revanchismo que em nada contribui para o debate, para o crescimento e para a multiplicação de prosperidade no Brasil.

Dignidade

Na opinião de Paulo Orso, caso os indígenas estivessem amparados por uma política séria, consistente e de longo prazo, eles não precisariam deixar suas reservas atrás de recursos mínimos que não encontram lá.

“Os relatos são os mais lamentáveis possíveis. De que não eles não têm estruturas adequadas de saúde, de educação, de alimentação e de qualidade de vida. Ou seja, são obrigados a buscar em outros lugares, nas cidades basicamente, o que deveriam ter em suas terras”, afirma o presidente do Sindicato Rural.

A política em vigor, se é que existe, no mínimo é insuficiente e está muito longe da expectativa dessas comunidades, entende o sindicalista.

O tema é complexo, reconhece Paulo, e por isso mesmo não pode ser tratado com base em paixões e ideologias que, em vez de proteger e de fortalecer as comunidades indígenas, as fragilizam e as expõem a riscos e a circunstâncias desnecessárias. Os indígenas são brasileiros, portanto temas que os afetam devem envolver toda a sociedade.

“Eles precisam de hospitais, de escolas, de profissionais que os assistam, de qualidade de vida e porque não de políticas de incentivo para que produzam e prosperem”, observa Paulo Orso.

“Há sim como integrar os índios ao Brasil sem que percam ou abandonem as suas raízes”, afirma ele.

Cada índio teria área de 130 hectares no Brasil

Produtores e líderes de entidades organizadas empregam uma conta simples para comprovar que a necessidade dos indígenas não é por mais terra e sim por uma política de atenção e de valorização por parte do governo federal.

O Brasil tem hoje cerca de 900 mil índios e juntos detêm cerca de 12% do território nacional. Ou seja, enquanto cada indígena tem 130 hectares, os outros 203 milhões de brasileiros – das mais diversas etnias – têm menos de quatro hectares, cada.

Diante do esquecimento de sucessivos governos ao longo de muitas décadas, os índios enfrentam dificuldades, e há relatos até da falta de alimentos, situação que os força a buscar as cidades.

“Ou seja, são obrigados a sair de suas reservas e a procurar um ambiente que não conhecem e que também não está preparado para recebê-los. Assim, o que se vê é um tremendo desrespeito, com índios na miséria e sujeitos ao crime e até à prostituição”, lamenta Paulo Orso.

Insegurança

O presidente da Caciopar (Coordenadoria das Associações Comerciais e Empresariais do Oeste do Paraná), Sergio Marcucci, acompanha os desdobramentos das disputas por demarcações em Terra Roxa e Guaíra com atenção.

“A incompetência de muitos governantes, que não priorizaram o assunto, criou insegurança e mal-estar no campo. Há riscos de conflitos e de mortes caso o tema não receba o cuidado que merece”, avisa.

Diante dos desafios que as reservas e aldeias impõem, os índios viraram massa de manobra a religiosos, a grupos econômicos e até de ongs internacionais. O cacique da reserva Rio das Cobras, de Nova Laranjeiras, não foi localizado pela reportagem para se pronunciar sobre o assunto.