Política

Indefinição de alianças atrasa campanha na internet

Candidatos já deveriam estar organizados para explorar a rede, diz especialista

Com alianças políticas indefinidas, pela primeira vez desde a redemocratização o formato das campanhas eleitorais ainda não está desenhado em março, a pouco menos de seis meses antes das eleições. Entre os motivos está a legislação eleitoral, que limita as formas de financiamento, proibindo doações de empresas, e diminui o período oficial de campanha, que deve começar somente no dia 16 de agosto, entre outras mudanças. No Paraná, a indefinição foi causada em parte pelo suspense criado pelo governador Beto Richa (PSDB), que só anunciou que renunciará ao cargo para disputar uma vaga no Senado na segunda-feira da semana passada, 12 dias antes do prazo final para desincompatibilização.

A demora de Richa fez com que as articulações sobre alianças também atrasassem. Tanto que a partir da definição do governador, os partidos apressaram as conversas. A vice-governadora Cida Borghetti (PP), que assumirá o governo no próximo dia 6 e concorrerá à reeleição, por exemplo, garantiu logo depois o apoio do PSB e do DEM. O deputado estadual e pré-candidato Ratinho Júnior (PSD), recebeu a promessa de apoio do PR, e o ex-senador Osmar Dias (PDT), do Solidariedade.

Especialista em marketing político e digital, Marcelo Vittorino afirma que os candidatos do Paraná já deveria estar organizados se pretendem utilizar todo o potencial da internet. “Eles não perceberam a diferença que faz começar antes. Eu nem culpo os candidatos. Isso (falta de tempo e recursos) é novo. E se cada candidato pudesse comprar o tempo que ele quisesse na televisão?”, diz.

Já sondado pelo grupo de Ratinho Junior, Vitorino afirma que é necessário montar a equipe e explorar quatro setores da internet. “A equipe ideal deve ter 25 pessoas. Acho que no Paraná vão ser menores. Os candidatos não entenderam ainda os impactos da ultima reforma”, diz.

Núcleos – De acordo com Vitorino, o marketing digital das campanhas deve ter um núcleo de “conteúdo”, um núcleo de “mobilização” e um de “arrecadação”. Algumas campanhas, segundo ele, vão ter núcleos de “combate a guerrilha”. “Uma equipe para motivar disparo de mensagens e incentivar as pessoas a doarem precisa de seis pessoas. Uma equipe para combater a guerrilha precisa de mais seis pessoas. Mas o que eu tenho visto é que vão querer fazer campanha de governo com dez pessoas”, afirma.Custo – Segundo Vitorino, somente a internet precisa de R$ 150 mil em pagamento de equipe. “Cada um ganharia R$ 5 mil, em média, por mês de campanha. Com salários de R$ 3 mil a R$ 10 mil. Dá uns 125 mil reais por mes, mas os núcleos não vão entrar ao mesmo tempo. Nos últimos 60 dias precisa da equipe inteira”, aponta.

“O marketeiro afirma que são necessários seis meses de trabalho. “Em março se faz pesquisa de conteúdo, público, formatos. Quando chega em abril e maio se produz o conteúdo para agosto. Quando chega em 16 de maio precisa montar a arrecadação. Só pode gastar quando for candidato. Em junho continua, treina militância e faz todo o cadastramento da equipe. Em julho, após as convenções, e agosto começa a campanha. Em 16 de agosto já está liberado a pedir voto e a campanha de TV no fim do mês. Tem mais de 10 dias só de internet com campanha liberada. Tem que ser um mega trabalho bom de conteúdo”, explica.

Questionado sobre quem pagaria pelo processo antes do período de campanha permitido por lei, Vitorino sugere que os partidos arquem com os adiantamentos. “Até o ano passado cargos comissionados não podiam doar. Agora podem. Por ora, a conta fica para os partidos”, sugere.

Falta de dinheiro também causa atraso 

Marketeiros que já estiveram envolvidos em campanhas no Paraná afirmam que as campanhas eleitorais estão paradas no Brasil inteiro, em especial na internet. “João Dória (PSDB-SP) esses dias não era candidato à presidência? Agora não falam em governo? Ninguém sabe. E outro problema é dinheiro. Vai tirar do partido, que vai recorrer ao fundo partidário… Quem controla esse fundo? Isso também depende das alianças. Tem tudo isso”, avalia um dos profissionais ouvidos pela reportagem.

Entre as vantagens, porém, segundo o especialista em marketing político e digital, Marcelo Vittorino, além de organizar um plano mais sólido e inteligente para a campanha digital, está o tempo que os candidatos teriam livres para a campanha. “Lugar de candidato é na rua. O conteúdo da TV eles vão fazer em cima da hora. Se fizer o conteúdo da internet antes o candidato está livre para sair”, diz.

Marcelo Vitorino trabalhou na campanha de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro. Ele afirma que foi sondado por Ratinho Júnior (PSD), mas que poderia trabalhar em outras campanhas. “Pelo que tinha entendido eles eram do mesmo grupo. Eu até perguntei pra quem, se era Cida (Borghetti) ou Ratinho. Em Goiás os candidatos já estão trabalhando. Na campanha presidencial fui procurado por Ciro (Gomes) e Geraldo (Alckmin)”, conta.