Cotidiano

?Impacto controlado? em cometa encerra missão histórica de sonda europeia

RIO ? Depois de mais de dois anos acompanhando o cometa 67P/Churyumov?Gerasimenko enquanto ele se aproximava, e agora se afasta, do Sol, a sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia (ESA), se choca com o objeto na manhã desta sexta-feira, dando fim à sua histórica missão. Neste período, a Rosetta coletou uma enorme quantidade de dados e imagens que ainda deverão requerer análises e render estudos por muitos anos, ajudando a desvendar os mistérios da formação do Sistema Solar, há mais de 4,6 bilhões de anos, e o possível papel dos cometas no surgimento da vida na Terra. As horas finais da missão Rosetta serão transmitidas pela internet tanto pela ESA quanto pela Nasa, a agência espacial americana, que colaborou com três dos 11 instrumentos instalados na sonda.

– A Rosetta é uma magnífica demonstração do que excelentes desenho, execução e a colaboração internacional em uma missão podem alcançar ? avaliou Geoff Yoder, chefe da Divisão de Ciência da Nasa. – Ficar na vizinhança de um cometa por mais de dois anos deu ao mundo uma visão inestimável destes belos nômades do espaço profundo. Parabenizamos a ESA por seus muitos feitos durante esta ousada missão.

Segundo a ESA, a expectativa é de que a sonda atinja o 67P a uma velocidade de pouco mais de 3 km/h, no que classificou como um ?impacto controlado?, por volta de 7h40 desta sexta-feira (horário de Brasília), com uma margem de erro de mais ou menos 20 minutos. A confirmação do choque, e os últimos dados da missão, no entanto, só devem chegar ao centro de controle da agência cerca de 40 minutos depois, tempo que os sinais de rádio levarão para cobrir os aproximadamente 720 milhões de quilômetros que nos separam da Rosetta atualmente, mesmo viajando à velocidade da luz.

Com esta suave e calculada aproximação final da sonda, os cientistas esperam obter ainda mais uma leva de dados inéditos sobre o 67P antes de seu desligamento deliberado e possível destruição. Por isso, o local do impacto final da Rosetta também foi cuidadosamente escolhido. Batizada Ma?at, a região fica no ?lobo? menor do cometa – que tem cerca de cinco quilômetros de comprimento, quatro de largura e dois de profundidade, num formato comparado ao de um pato de borracha ? onde foi observada muita atividade à medida que ele se aproximou do Sol.

Se tudo der certo, a sonda poderá observar e fazer medições de muito perto de valas com mais de 100 metros de largura e 50 metros de profundidade de onde o 67P teria liberado poderosos jatos de material, como poeira e vapor, enquanto foi gradualmente aquecido pela luz de nossa estrela. A expectativa da ESA é de que as últimas imagens feitas pela Rosetta, de uma altura que chegará ao mínimo estimado em cerca de 5 metros, sejam divulgadas praticamente em tempo real em seu site e na conta da missão na rede social Twitter, em @ESA_Rosetta.

Lançada em 2004, a Rosetta percorreu uma longa jornada de mais de dez anos e 6,5 bilhões de quilômetros até alcançar o 67P em agosto de 2014, incluindo três voos rasantes pela Terra, em 2005, 2007 e 2009, e um por Marte, em 2007. Conhecidas como estilingues gravitacionais, estas manobras deram à sonda a velocidade e trajetória necessárias para interceptar a órbita do cometa em torno do Sol, na qual completa uma volta em torno de nossa estrela a cada 6,45 anos, com uma aproximação máxima (periélio) de 186 milhões de quilômetros, pouco mais que a distância média da Terra à nossa estrela, e afastando-se para um afélio (ponto mais distante) de quase 850 milhões de quilômetros, além da órbita de Júpiter.

Uma vez junto ao 67P, a Rosetta passou cerca de três meses estudando o objeto antes que a missão realizasse outro feito histórico. Na manhã de 12 de novembro de 2014, ela liberou o módulo Philae rumo à superfície do cometa. Pouco menor que uma máquina de lavar roupa, o Philae pousou no 67P no mesmo dia, trabalhando por pouco mais de 60 horas na superfície do cometa antes de suas baterias se esgotarem. O tempo, no entanto, foi suficiente para que ele realizasse quase todos os principais objetivos da sua missão, obtendo uma grande quantidade de dados inéditos sobre este tipo de corpo celeste que também ajudarão a revelar se os cometas de fato trouxeram para a Terra ao menos parte da água de nossos oceanos, além dos ingredientes básicos, como aminoácidos, para que a vida se desenvolvesse no nosso planeta, como sugerem algumas das teorias mais aceitas atualmente.