Economia

Imóveis podem subir 30% para evitar perdas para incorporadoras

O reajuste acumulado dos preços de alguns insumos, como o aço, chega a 150%

Imóveis podem subir 30% para evitar perdas para incorporadoras

Cascavel – Um dos setores que mais cresceram durante a pandemia foi a construção civil, impulsionados pelo estímulo ao investimento, frente à menor taxa Selic da história. Contudo, o desabastecimento de matéria-prima provocado pela paralisação das indústrias no ano passado e o inesperado incremento da demanda por serviços proporcionados por reformas nas residências, a aceleração das vendas de imóveis, bem como o aumento nos preços das commodities, tornaram-se elementos fundamentais para os aumentos exagerados de preços dos insumos de toda a cadeia produtiva das obras de engenharia.

O reajuste acumulado dos preços de alguns insumos, como o aço, chega a 150%. O somatório dos efeitos provocados pelo desabastecimento de produtos e o aumento excessivo no preço, fato nunca antes ocorrido nessa proporção, afeta de maneira grave os contratos firmados anteriormente à pandemia.

De acordo com Sérgio Casarotto, empresário e coordenador da Indústria Imobiliária do Sinduscon Oeste, o aumento nos insumos e da mão de obra acaba, muitas vezes, estourando na construtora, que não consegue repassar o valor ao cliente por questões contratuais. “Provoca muita discussão por parte do cliente, pois o material subiu muito acima da infração e qualquer rendimento de aplicação financeira. Isso acabou estourando na construtora e no cliente. A gente observa que alguns fornecedores estão abusando do preço, outros aumentaram em função do dólar, aumento do frete do navio, de importação… A covid-19 provoca paralisação na produção, demora na entrega e isso pode ser observado no mercado. Fica difícil repassar tudo ao cliente. A gente acaba repassando uma parte, mas não consegue repassar tudo”, explica.

O INCC (Índice Nacional de Custo de Construção) – que mede a variação dos preços de materiais de construção e mão de obra – teve um aumento, entretanto, não o suficiente para cobrir os altos valores dos insumos e da mão de obra pagos nos canteiros de obras.

Diante disso, as incorporadoras que não conseguem repassar os valores nos imóveis adquiridos antes da pandemia acabam tentando repassar as perdas nas unidades que ainda não foram negociadas. Com isso, o aumento em alguns casos pode chegar a até 30%. “Os imóveis que não foram vendidos acabam absorvendo os valores. Os imóveis ficam muito mais caros justamente para tentar absorver uma parte. O INCC está alto, mas não consegue absorver todos os custos da construtora. A tendência é aumentar bastante preço nos imóveis não vendidos, alguns, por exemplo, tiveram até 30% de aumento”.

Segundo Casarotto, muitas das incorporadoras preferem que o cliente devolva o imóvel, pois, assim, conseguem recuperar os valores. “Cada empresa negocia com o cliente. Tem cliente que já pagou boa parte da unidade, outros pagaram pouco. Outras vezes ocorrem distratos, tem construtora que acha bom que ele devolva e consegue recuperar o valor, pois, muitas vezes, mesmo pagando o reajuste, não recupera”.

De acordo com Sérgio, em Cascavel, as empresas estão começando a sentir reflexo do INCC só agora.

Além disso, para ele, a taxa de devolução na cidade é baixa e espera que continue assim. “Cascavel tem um índice de devolução baixíssimo, espero que a taxa de distrato não seja grande”.

 

Mercado imobiliário

Enquanto alguns segmentos apresentavam dificuldade em plena pandemia, outros tiveram avanços, como é o caso do mercado imobiliário, que vinha de uma curva ascendente desde antes da pandemia e, na metade de 2020, em meio à crise, pôde observar uma melhora nas vendas.

Agora o mercado se estabilizou, contudo, a expectativa é de que em 2022 volte a crescer.

De acordo com Casarotto, a perspectiva é de que o volume de lançamento de imóveis seja retomado no próximo ano. “As vendas estão estáveis, tiveram crescimento na metade do ano passado, em plena pandemia, depois, começaram a cair e voltaram ao patamar anterior. O mercado estava em uma curva ascendente quando começou a pandemia, daí estabilizou e parou de crescer. O volume de lançamentos caiu e deve ser retomado em 2022”.

 

Médio padrão

Na avaliação de Casarotto, o mercado deve se concentrar nas pessoas que compram imóveis de padrão médio, pois não houve reajuste de renda necessário. “Vai ter uma dificuldade na faixa do Minha Casa Minha Vida, atual Casa Verde e Amarela, porque, com o aumento de custos, o pessoal que compra imóvel nessa faixa de preço acaba ficando com as condições de crédito muito comprometidas. Até que a economia reajuste a renda das pessoas, o mercado vai ficar na faixa do residencial de padrão médio, alto e comercial. Do médio para baixo ainda precisa de uma recuperação na renda”, avalia.