Cotidiano

Ilan: BC não precisar ficar ?de público? em relação ao câmbio

INFOCHPDPICT000059573044RIO – O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse nesta quinta-feira que o objetivo da autoridade monetária é permitir que a taxa de câmbio flutue, mas não descartou intervenções. Em entrevista à colunista Míriam Leitão, em seu programa na GloboNews, Ilan afirmou que não há dogma que determine que, no sistema de câmbio flutuante, o BC precisa ficar ?de público, assistindo?.

? Regimes cambiais no mundo há muito poucos em que não há intervenção nenhuma. Em geral são de países desenvolvidos. Nos emergentes, câmbios são muito mais flutuantes que fixos. De vez em quando, por questões de falta de liquidez, você tem algumas intervenções. Não tem nenhum dogma de que, para ter câmbio flutuante, o Banco Central precise ficar de público, assistindo ? disse Ilan.

Ilan07-07Desde a troca de comando no BC, o mercado tem especulado sobre um possível abandono de uma espécie de piso informal para a cotação do dólar. Na gestão de Alexandre Tombini, era comum ver intervenções da autoridade monetária sempre que a taxa chegava próxima dos R$ 3,50. Na semana passada, a moeda americana chegou a valer R$ 3,20, diante da percepção que a administração de Ilan seria menos intervencionista.

Na entrevista, no entanto, o novo chefe da autarquia negou a existência de um piso. E destacou que o BC pode aproveitar os momentos de queda da moeda americana para diminuir sua exposição em contratos de swap cambial ? que funcionam como uma venda de dólar no mercado futuro e foram utilizados para controlar a escalada da divisa no ano passado. O montante de contratos desse tipo chegou à casa dos US$ 110 bilhões e, agora, está próximo de US$ 60 bilhões, afirmou Ilan.

? O carma de qualquer presidente do Banco Central é que sempre acham que o presidente anda com um nível, com um piso, um teto. O câmbio flutuante nos ajuda. Quando a situação não está muito boa ele deprecia e, ao mesmo tempo, contribui para recuperação do crescimento. Ele tem seu papel quando flutua ? afirmou.

TRABALHO POR MUITOS ANOS

Em relação à política fiscal, Ilan destacou que o Banco Central continua acompanhando os desdobramentos do ajuste nas contas públicas, que determinarão o peso da política monetária no combate à inflação. Normalmente, o principal mecanismo para conter a alta de preços utilizada pela autoridade monetária é a taxa básica de juros. Ou seja, uma política fiscal mais eficiente tende a fazer com que o peso dos juros seja menor.

Ilan elogiou a proposta do governo de limitar o crescimento dos gastos com base na inflação do ano anterior, apresentada ao Congresso no mês passado.

? Acho que o teto de gastos é bem relevante. Ele explicita algo que não estava claro nos últimos anos. A gente tinha despesa crescendo 6% ao ano. Isso fez com que a carga tributária subisse. A dívida começasse a subir. Atrapalha o risco. Acho essa discussão (sobre o crescimento dos gastos públicos) muito saudável ? disse o presidente.

O economista, que deixou o cargo de economista-chefe do Itaú Unibanco para ocupar a presidência do BC, disse ainda que tem trabalhado tendo em vista medidas de longo prazo, independente da duração do governo. Para ele, o principal legado que poderia deixar seria a inflação dentro da meta de 4,5% estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

? Meu projeto é trabalhar aqui independente do prazo, como se fosse ficar muitos e muitos anos ? afirmou o presidente do BC.