Cotidiano

Ig Nobel premia as pesquisas mais absurdas, e engraçadas, do mundo

RIO ? Dedicado a destacar algumas das pesquisas científicas mais absurdas, e engraçadas, do mundo, os prêmios Ig Nobel foram entregues na noite desta quinta-feira em um teatro lotado na Universidade de Harvard, EUA. Com o mote de que estes estudos muitas vezes primeiro nos fazem rir, mas depois nos colocam para pensar, a premiação homenageou os esforços de cientistas que realizaram feitos como vestir ratos com calças, analisar as tendências suicidas de libélulas ou a aparente personalidade de rochas, muitos deles presentes na cerimônia, que contou com a participação de laureados com prêmios Nobel reais – Dudley Herschbach (Nobel química em 1986), Eric Maskin (Nobel de economia em 2007), Rich Roberts (Nobel de fisiologia ou medicina de 1993) e Roy Glauber (Nobel de física em 2005). Os quatro também participaram de uma competição de jogo da velha contra um neurocirurgião e um cientista da Nasa.

Falecido recentemente, o médico e sexólogo egípcio Ahmed Shafik foi apontado como vencedor do Ig Nobel na categoria ?reprodução? por pesquisas nas quais vestiu ratos com calças de diferentes tipos de tecidos – poliéster, algodão e lã – para avaliar seu efeito na atividade sexual dos animais. Publicado em 1993 no periódico ?European Urology?, o estudo revelou que os ratos vestidos com o tecido artificial se acasalavam significativamente menos que os outros, reforçando achado anterior do próprio Shafik de que as cuecas de poliéster poderiam afetar a produção de espermatozoides, e consequentemente a fertilidade, dos homens.

Já na categoria economia, o Ig Nobel foi para o trio de pesquisadores Mark Avis, Sarah Forbes, e Shelagh Ferguson por análises da percepção sobre a personalidade de rochas na construção de marcas sob um ponto de vista de marketing e vendas, cujo estudo foi publicado em 2014 no periódico ?Marketing Theory?. No campo da física, por sua vez, o prêmio foi dividido entre duas equipes de cientistas da Hungria, Espanha, Suécia e Suíça. A primeira publicou em 2010 no periódico ?Proceedings of the Royal Society B? estudo que demonstrou que os cavalos de pelos brancos sofrem menos com os ataques de moscas que os animais de outras cores, enquanto a segunda avaliou o que chamou de ?atração fatal? de libélulas por lápides de cemitério pretas em estudo publicado em 2007 no periódico ?Freshwater Biology?.

Seguindo a cerimônia, o prêmio de química lembrou o recente escândalo envolvendo a fabricante de veículos Volkswagen, que tentou resolver o problema das emissões excessivas de seus automóveis programando os motores dos carros a produzirem menos poluentes em condições de teste. Já o Ig Nobel de medicina foi dado ao quinteto de cientistas alemães Christoph Helmchen, Carina Palzer, Thomas Münte, Silke Anders e Andreas Sprenger, da Universidade de Luebeck, por descobrirem que se uma pessoa tiver uma coceira no lado esquerdo do corpo ela pode aliviá-la se olhando num espelho e coçando o lado direito do corpo, ou vice-versa.

Ainda na premiação, os vencedores na área de psicologia foram Evelyne Debey, Maarten De Schryver, Gordon Logan, Kristina Suchotzki e Bruno Verschuere por uma pesquisa na qual entrevistaram mil pessoas consideradas mentirosas contumazes sobre o quão frequentemente elas mentem, e por decidirem se acreditavam ou não nas suas respostas. Logo depois foi a vez do Ig Nobel da paz, dado a pesquisadores do Canadá e EUA que revelaram como detectar declarações e frases falsamente profundas, descobrindo que pessoas com QI mais baixo gostam mais deste tipo de citações. Publicado em novembro do ano passado no periódico ?Judgment and Decision Making?, o estudo atraiu a atenção da imprensa, rodou pelas redes sociais e rendeu até a criação de sites que geram aleatoriamente frases ?pseudoprofundas?.

A seguir, foram entregues os prêmios nas categorias biologia, literatura e ?percepção?. Na primeira, o Ig Nobel foi dividido entre dois britânicos, ambos por terem vivido como e entre animais: o veterinário e escritor Charles Foster, que relata sua experiência vivendo como um texugo, um cervo, uma raposa e outros animais no livro ?Being a Beast? (?sendo um animal?, em tradução livre), lançado este ano; e o designer Thomas Thwaites, que construiu, e vestiu, próteses para suas pernas e braços para viver entre bodes e também descreveu sua experiência em livro publicado este ano, intitulado ?GoatMan: How I took a holiday from being human? (?homem-bode: como tirei férias de ser um humano?).

Já na categoria literatura, o sueco Fredrik Sjöberg foi premiado por escrever trilogia autobiográfica em que conta os prazeres de colecionar moscas mortas ou agonizantes. Por fim, o Ig Nobel de ?percepção? foi dado à dupla japonesa Atsuki Higashiyama e Kohei Adachi, que investigou se as coisas parecem diferentes quando uma pessoa se abaixa e as olha por entre as pernas e apresentaram os resultados em estudo publicado em 2006 no periódico ?Vision Research?.