Esportes

Ícone do esporte, Clodoaldo Silva acende pira paralímpica

O bom gosto e as sacadas simples, inteligentes e criativas que marcaram toda a cerimônia de abertura da Paralimpíada também pautaram um dos momentos mais emocionantes da festa, o acendimento da pira. O cadeirante Clodoaldo Silva, segundo brasileiro com mais medalhas no evento, com 13 ao todo (seis douradas), atrás apenas de Daniel Dias (16, dez de ouro), e que encerra a carreira na natação no Rio-2016, foi o último a receber a chama paralímpica, dentro do Maracanã. E, para acender o símbolo máximo dos Jogos, ele se deparou com uma enorme escada, impossível de subir em duas rodas.

cerimônia de abertura

O clima de suspense tomou conta do estádio por alguns segundos até que a escada se abriu em rampas e Clodoaldo conseguiu subir, chegar à pira e acendê-la. O modelo é o mesmo da Olimpíada, simples, como um caldeirão, enfeitado pela mesma escultura cinética de Anthony Howe, que se assemelha ao sol. Assim como na Olimpíada, uma segunda pira ficará na Zona Portuária.

O objetivo da equipe de criação, que contou com um cadeirante como um dos diretores, o escritor Marcelo Rubens Paiva, era criar uma brincadeira desconfortante no público, semear o questionamento em relação ao espaços públicos da cidade, na grande maioria não inclusivos. Um contraste com o vídeo mostrado no início, em que o presidente do Comitê Paralímpico Internacional, o cadeirante Phillip Craven, passou por diversos locais do Brasil, incluindo a praia, até o Maracanã. Ele não teve dificuldade alguma para tocar sua cadeira de rodas. Era uma montagem.

QUEDA E APLAUSOS

Essa parte da festa, chamada de ?desenhar para todos?, começou com um vídeo que mostrou momentos marcantes da trajetória da tocha pelo país. A chama paralímpica, ?criada? em campanha virtual, chegou ao estádio conduzida por Antônio Delfino de Souza, que teve a mão esquerda amputada quando era adolescente, campeão paralímpico nos 200m e 400m rasos, em Atenas-2004. Ele enxugou as lágrimas por debaixo do óculos com o braço amputado.

Passou a tocha para Márcia Malsar, que disputou os Jogos de Nova York/Stoke Mandeville, no berço do esporte paralímpico, em 1984, e que foi a primeira brasileira a ganhar medalha no atletismo paralímpico. Ela trouxe para o país um ouro (200m), uma prata (1.000m no cross country) e um bronze (60m), e ainda outra prata em Seul-1988 (100m). Márcia precisou da ajuda de um andador para andar. Na chuva, chegou a cair e foi aplaudida de pé pelo estádio inteiro.

Márcia levantou com a ajuda de duas pessoas da organização e emocionou ao caminhar até o fim de seu percurso, que não foi encurtado, e encontrar a velocista Ádria Rocha Santos, deficiente visual, dona de 13 medalhas paralímpicas (quatro ouros). Ádria, a percursora dos atletas cegos no atletismo, correu com a ajuda de uma guia até Clodoaldo.

O nadador encaixou a tocha na cadeira de rodas e se aproximou da área onde a pira estava escondida e fez esforço para subir a rampa. Clodoaldo, que teve paralisia cerebral por falta de oxigênio durante o parto e que acabou afetando os movimentos de suas pernas, havia dito antes da festa que não sabia de seu protagonismo. Algo conquistado desde 2004. Ele foi um dos responsáveis por difundir a imagem do esporte paralímpico no país. Quando ganhou seis ouros e uma prata em Atenas, o esporte paralímpico ganhou visibilidade e a imagem do movimento passou a ser a de excelência.

Cerimônia de abertura da Paralimpíada