Cotidiano

Hollande dá sinais que vai se candidatar à reeleição

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PARIS ? Em discurso para a esquerda e membros governo francês, o presidente François Hollande deu a entender que tentará a reeleição no ano que vem, apesar dos baixos índices de popularidade de seu governo ? os piores da História recente da França. Durante uma hora, ele defendeu a integração do Islã à sociedade francesa e a democracia, dizendo que ela será “sempre mais forte do que a barbárie?.

? Eu não vou deixar a imagem da França ser estragada, nos próximos meses ou nos próximos anos. Eu não vou deixar a França ser prejudicada, reduzida, ter a sua liberdade questionada, suas leis contestadas, sua educação diminuída ou sua cultura dividida. É uma batalha de uma vida ? disse o presidente para a plateia da Salle Wagram, sala de espetáculos em Paris. ? Não vou deixar que a Europa sofra um colapso ou se dissolva. Não vou ser vencido pelo nacionalismo, por fronteiras, pelo extremismo.

Comentando os fluxos de imigração para o país, assunto que move a acirrada corrida eleitoral francesa, o presidente criticou a postura de partidos populistas e de extrema-direita. Referindo-se diretamente ao islamismo, que considerou ?a segunda religião da França?, ele sugeriu a criação do ?Islã da França?, uma associação nacional para obter fundos para a construção de mesquitas e treinar imãs.

? A República não pode aceitar uma situação em que a maioria dos imãs é treinado no exterior, e às vezes não sabe a nossa língua ? defendeu.

Sobre o laicismo do Estado francês, que acalorou debates sobre o uso de véus e burquínis, ele se disse contrário a leis que estigmatizem o Islã, ainda que defendendo a tradição francesa.

? O Islã pode se acomodar ao secularismo, como fez o catolicismo, o protestantismo, o judaísmo? Pode aceitar a separação de fé e lei, que é o princípio fundador do secularismo? Minha resposta é sim, claro que sim. ? afirmou Hollande. ? Enquanto eu for presidente, não haverá legislação de ocasião, que seja inconstitucional ou impossível de aplicar.

Com o ingresso do ex-presidente Nicolas Sarkozy nas eleições, enquanto a Frente Nacional liderada por Marine Le Pen cresce nas pesquisas, o futuro de Hollande parece incerto. No final de agosto, o ministro da Economia, Emmanuel Macron, deixou o cargo e criou o partido En Marche!, ?nem de direita, nem de esquerda?, segundo ele. A saída expôs a fissura no Partido Socialista, que critica que as medidas austeras do governante.

Em ataque direto a Sarkozy, que criticou supostas ?benesses legais e medidas cautelosas? de Hollande em relação ao extremismo religioso, o presidente respondeu lembrando dos problemas judiciais do adversário, acusado de financiamento ilegal de sua campanha de 2012.

? Ser tido como inocente é uma benesse legal? É bem útil quando você está se defendendo.

Após os atentados em Paris e Nice, a política militarista de Hollande rendeu resultados melhores à sua popularidade. Não foi o suficiente, no entanto, para resgatar o mandato do presidente, que sofre rejeições da esquerda e da direita. Em março, a proposta de reforma trabalhista articulada por seu governo foi motivo de protestos.