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Hipismo: americano de 78 anos comanda equipe brasileira de saltos

george_morris.pngUm senhor de boné azul, óculos vermelhos, uniforme do Brasil e as marcas do tempo bem presentes no rosto esperava sentado, pacientemente, a equipe brasileira de saltos atender a imprensa na zona mista do Centro de Hipismo, em Deodoro, ontem. Enquanto Doda, Eduardo Menezes, Pedro Veniss e Stephan Barcha comentavam as chances de medalha do Brasil, que estreia hoje na modalidade, ele apenas observava, sem entender bem o português da conversa. Aproveitava para amenizar o cansaço provocado pela crise asmática e se refrescar com um refrigerante na quente tarde do bairro militar. Se alguém quisesse trocar uma palavra com ele, estava ali à disposição de todos.

Este senhor, de 78 anos, que quase passou despercebido por jornalistas não especializados, é o americano George Morris, técnico do time brasileiro de saltos e uma referência do hipismo mundial. Não é para menos. Em Roma-1960, ele ganhou a primeira medalha olímpica, a de prata, com a equipe dos Estados Unidos. Em mais de 60 anos de carreira, passaram por suas mãos, como treinador, inúmeros campeões mundias e medalhistas. No comando do time de seu país, conquistou o ouro em Pequim-2008. Agora, ele está pronto para a 15ª Olimpíada na carreira.

hipismo14-08Um currículo que poderia levá-lo ao status de intocável. Mas não. Ali, em Deodoro, estava apenas um homem de idade, ciente da importância da divulgação do seu trabalho. Nem por isso deixava de ser reverenciado por seus pupilos, cujas palavras eram carregadas por respeito a Morris. Entre uma entrevista e outra, os cavaleiros se aproximavam do técnico para tirar alguma dúvida. Afinal, diante deles, estava um biblioteca viva dos esportes equestres.

? Ele é uma pessoa muito franca, profissional. As conversas são muito diretas em relação aos nossos objetivos, e estamos com um clima ótimo na equipe. Ele é uma pessoa super agradável sempre que está com a gente. Estamos em ótimas mãos ? garante o cavaleiro Stephan Barcha, o mais atencioso com o treinador.

SEM POLÊMICA COM RODRIGO PESSOA

Barcha, inclusive, foi o escolhido no lugar de Rodrigo Pessoa. Decisão que gerou polêmica e fez o campeão olímpico abrir mão de ser o reserva da equipe. O cavaleiro criticou a postura do treinador com veemência, em notas oficiais e em entrevistas ao redor do mundo. Nada que abale a posição de Morris, amigo de anos da família Pessoa. Sem tomar o assunto como tabu, ele responde com simplicidade.

? Ninguém mais do que eu queria ter trazido o Rodrigo. Mas tive que trazer os melhores no momento. Eu tinha que ser justo, venho de um país onde impera a democracia e eu prezo por isso ? explica Morris, que conhece Rodrigo desde criança devido à amizade com outra referência do esporte, o pai do cavaleiro, Nelson Pessoa, o Neco. ? Ele é um dos meus saltadores preferidos, tem o tipo de técnica que mais gosto.

Desde janeiro no cargo de técnico da seleção, Morris teve pouco contato com os candidatos às quatro vagas olímpicas. Residentes nos Estados unidos, esteve presente apenas nas etapas de Copa das Nações. De alguns cavaleiros, viu apenas vídeos. Atitude que não foi bem vista por alguns. Porém, a percepção aguçada para encontrar e lapidar campeões parece ser suficiente. Ainda que cada conjunto tenha técnicos próprios durante a temporada, o conhecimento do americano não se choca com o treinamento dos seus companheiros de profissão.

? Nós temos que escutá-lo. Ele é o técnico da equipe, e seu currículo nos faz respeitá-lo ainda mais. Ele também respeita muito a nossa opinião como cavaleiro, não impõe nada, tem a humildade de nos escutar. E tem um diferencial, que o Neco tem também, que é nos colocar numa posição na qual entramos 100% confiantes. No nosso esporte, em que só temos uma chance, isso faz muita diferença ? conta Stephan, que evita entrar em conflito com Rodrigo Pessoa, e diz respeitar a opinião do seu ídolo.

A primeira decisão de Morris no Rio-2016 foi a escolha da ordem da entrada dos conjuntos na pista. Eduardo Menezes será o primeiro, Stephan o segundo, Doda, o terceiro, e Veniss por último.

? Foi uma estratégia do treinador. Temos 100% de confiança nele, uma pessoa que tem experiência incrível. Se ele falou, está falado ? brincou Veniss, que disputa sua segunda edição dos Jogos Olímpicos.

Ao fim da zona mista, e com todos os seus cavaleiros liberados, Morris se levantou, pegou sua bolsa de viagem e seguiu para dar início a mais uma Olimpíada.