Cotidiano

Herbalife: EUA não chamam de pirâmide, mas também não negam

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WASHINGTON – Na bilionária batalha envolvendo a Herbalife, Carl Icahn ? maior acionista da empresa ? cantou vitória na sexta-feira. Mas detalhes do acordo firmado com a Comissão de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) indicam que Bill Ackman ? o bilionário que trava uma briga contra a companhia ? pode rir por último, e melhor. A presidente da FTC, Edith Ramirez, optou por não afirmar que a empresa com sede nas Ilhas Cayman opera com esquema de pirâmide, mas também não disse que ela não o faz.

? Nosso foco não é rotular ? afirmou Edith à imprensa depois que a agência anunciou, na última sexta-feira, que a Herbalife concordou em pagar US$ 200 milhões e fazer mudanças na forma de operar seus negócios em troca de um acordo.

A companhia foi acusada de enganar consumidores com promessas de enriquecimento. Embora tenha deixado o rótulo de pirâmide de fora, o órgão regulador americano acabou apoiando boa parte das alegações de Ackman e descreveu os negócios da empresa com termos muito duros.

Isso contradiz parcialmente uma declaração de Icahn na qual ele cantou vitória com a decisão: ?O acordo da FTC anunciado hoje (sexta-feira), vem depois de uma investigação de dois anos, e concluiu que a Herbalife não é um esquema de pirâmide ? uma conclusão que obviamente comprova as nossas pesquisas e convicções. Enquanto Bill Ackman e eu estamos em termos amigáveis, concordamos em discordar (veemente) sobre este assunto. Dito de forma simples, os preceitos estavam completamente errados sobre a Herbalife?.

Mas não é bem assim, afirmou Ackman, que liderou uma campanha de três anos e meio de olho em lucrar com a morte da Herbalife. Ele acredita que as mudanças exigidas pela FTC vão levar ao fim da Herbalife. Um auditor independente vai monitorar o cumprimento do acordo durante sete anos.

?Embora pareça que a Herbalife negociou a retirada das palavras ?esquema de pirâmide? do acordo, as descobertas da FTC são claras?, afirma em nota a Pershing Square Capital Management, empresa de investimentos de Ackman. ?Esperamos que quando a restruturação dos negócios da Herbalife for totalmente implementada, essas mudanças estruturais causem o colapso da pirâmide.?

EMPRESA ENGANA RECRUTAS

A FTC determinou que a Herbalife deve mudar seu marketing, recrutamento e forma como mede suas vendas. Essas mudanças podem ameaçar o modelo de negócio da empresa. A FTC também afirmou que a empresa engana as pessoas que recruta com promessas de ganhos de milhares de dólares ao mês com a venda de seus produtos.

A Herbalife, que opera sob um sistema conhecido com marketing multinível, terá de reformular seu sistema de compensação de modo a recompensar as vendas no varejo e não o recrutamento feito pelos distribuidores. Sob o acordo, ao menos dois terços dos pagamentos de recompensas aos distribuidores devem ser baseados em vendas de fato, e ao menos 80% das vendas da empresa nos EUA devem ser baseadas em ?vendas reais aos consumidores?, afirmou a presidente da FTC.

? Eles terão que demonstrar vendas varejistas reais ? disse Tim Ramey, analista do Pivotal Research Group. Ele é um dos poucos analistas que ainda acompanham a Herbalife e defendeu a empresa dos ataques de Ackman. ? Não acredito que a Herbalife concordaria com o acordo se não pudesse cumpri-lo. Mas a prova está em questão.

A FTC determinou a substituição de recompensas financeiras por vendas verificáveis em nota fiscal em vez de compras de recrutas. Um distribuidor que tenha vendedores só será pago se eles venderem o estoque que comprarem.

Atualmente, um distribuidor ganha quando seus vendedores fazem compras, independentemente de eles repassarem ou não os produtos a consumidores. Isso pode fazer com que grandes distribuidores, que são o coração da empresa, acabem saindo da Herbalife e migrando para outras empresas de marketing multinível.

De acordo com a FTC, a empresa precisa policiar melhor os distribuidores e impedi-los de enganar potenciais vendedores sobre o quanto podem ganhar. Com menos exageros, menos pessoas devem se interessar em se unir à empresa, acreditam analistas.

Icahn ? que já era o maior acionista da Herbalife, com uma fatia de 18% e cinco representantes no conselho de administração ? anunciou que o conselho elevou seu limite de propriedade da companhia de 25% para 35%. Isso pode fazer com que ele tenha um papel ainda mais ativo na estratégia da companhia.

? É hora de considerar uma série de oportunidades estratégicas, incluindo potenciais negócios envolvendo concorrentes, bem como outras transações estratégicas ? disse Icahn.

Uma vez que a reestruturação da Herbalife é uma determinação e uma exigência do governo, resta saber se Icahn vai ampliar sua fatia e o que restará da empresa para novas estratégias.