Cotidiano

Guia da Chapada Diamantina mapeia atrativos e mostra 21 novidades

RIO – Há trilhas na Chapada Diamantina que levam a cavernas e cachoeiras de águas azuis cristalinas, num cenário com espécies de flores e fauna abundantes pouco explorado, desconhecido de muitos. Não à toa, tanto há a percorrer: o Parque Nacional da Chapada Diamantina, que fica a cerca de 430 quilômetros de Salvador, ocupa um território de 1,5 mil quilômetros quadrados do noroeste baiano, abriga 24 municípios, mais de 300 cachoeiras e 150 grutas.

BV-Bahia

Quem vai até lá garante que a experiência é única. Pois agora, ficou mais fácil chegar. Foi lançado este ano o ?Guia completo da Chapada Diamantina?, publicação que contém informações não só sobre trilhas e locais mais famosos, como o Vale do Pati e o Poço Encantado, como cataloga caminhos que antes não eram mapeados ? e que levam a cachoeiras desertas, como a da Encantada, ainda pouco visitada por turistas. São 21 novas atrações, que vão desde atividades de aventura criadas agora até rotas recentemente reveladas para passeios já conhecidos.

Guia em formato digital

O guia foi elaborado em parceria com os agentes de turismo da região. Ele está disponível em formatos de revista impressa, ao preço de R$ 49; de aplicativo, gratuito, para os sistemas operacionais IOS e Android; e também no site oficial da publicação.

Além dos passeios pela natureza, o mapeamento inclui todas as pousadas, hotéis e albergues das cidades, além dos locais, no parque e fora dele, onde é possível acampar. Os municípios da chapada ainda oferecem atrativos gastronômicos, históricos e culturais. Os principais pontos de partida para quem vai entrar pelo parque é a cidade de Lençóis, mas outros municípios como Andaraí e Palmeiras também oferecem boas opções de acomodação.

Para Branca Pires, uma das responsáveis pelo guia, conhecer toda a área requer tempo e organização:

? É preciso ficar no mínimo cinco dias na chapada, para conseguir conhecê-la devidamente. Os atrativos estão longe uns dos outros, e um dos benefícios do guia é que ele está dividido por regiões, facilitando muito a localização das informações.

Em cada bloco, continua Louise, o leitor encontra um descritivo geral das cidades, seus principais atrativos, serviços turísticos e mapa. Desta forma, o turista pode se localizar no município e saber, por exemplo, onde está a sua pousada, sua agência ou alguma loja que deseje ir.

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Algumas atividades de aventura chegaram há pouco tempo à região. Profissionais e empresas capacitados já oferecem voos livre e de paramotor, além de stand-up paddle em algumas áreas. Outros passeios tradicionais da chapada foram reeditados. É o caso dos quatro novos roteiros do Vale do Pati, o belo e mais conhecido da região, mas que também só pode ser feito com guia.

Já entre os caminhos pouco visitados e que estão mapeados, há as cachoeiras do município de Itaetê, um dos segredos mais bem guardados da região. As quedas d?água de Herculano, Encantada e Bom Jardim são acessíveis via caminhadas de níveis que variam entre fácil e intermediário, pela mata baixa, típica do semiárido. No caminho, répteis, aves e mamíferos ? entre eles o rato-de-espinho e o morceguinho-do-cerrado ? podem ser avistados.

Aliás, a Diamantina é ponto importante para a observação de pássaros. Estão ali espécies endêmicas, como o beija-flor-de-gravata-verde, a gralha do cerrado e a rolinha-do-planalto. Outras usam o local como parada em suas rotas de viagens pelo planeta. Mais de 300 espécies de aves circulam por ali. O semiárido é um dos ecossistemas mais ricos do mundo, com uma das maiores diversidades em espécies de flores. Na chapada, é possível observar orquídeas, bromélias e sempre-vivas endêmicas, que florescem todo o ano.

Na visita à região, a ida ao Morro do Pai Inácio, cartão-postal, e o mergulho no Poço Azul não podem ficar de fora. Alguns passeios podem ser feitos a pé, mas na maioria, melhor usar o carro, já que as distâncias são grandes. E, lembre-se, sempre acompanhado de profissionais.

Arte rupestre, turismo rural e comunitário

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Para os turistas que vão à Chapada Diamantina, o contato com a natureza virgem é o ponto alto. Mas não só de fauna e flora vive a região. Sua arte rupestre é uma das mais ricas do país: muitas obras já estão mapeadas e merecem ser visitadas.

A principal delas fica no município de Morro do Chapéu, na área que é conhecida como a Chapada Norte. São mais de 200 sítios arqueológicos, todos integrantes do ?Programa de pesquisa e manejo de sítios de arte rupestre e circuitos arqueológicos da Chapada Diamantina?, desenvolvido pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Com território diferenciado e único, o Morro do Chapéu apresenta um verdadeiro mosaico de pinturas, com formas geométricas e abstratas. Em Jacobina, conhecida como a ?Cidade do ouro?, também é possível viajar por esta arte milenar.

Rural e comunitária

Há ainda opções de turismo rural, que consegue aliar o que há de melhor na região com atividades como cavalgadas e degustação de alimentos locais. A produção de cachaça artesanal, que já é um clássico pelo interior do Brasil, é um dos exemplos. Na Fazenda Pousada Vaccaro, localizada na cidade de Rio das Contas, é possível não apenas degustar a mais nacional das bebidas, como participar do processo de produção. Assim como praticar tirolesa e rapel.

No guia, também estão listadas atividades de turismo comunitário. Uma delas é promovida pela Associação Grãos de Luz, sediada em Lençóis, que desenvolve um projeto pedagógico de educação informal nas comunidades da região. A inspiração vem do Griô, um personagem mítico que percorria os sertões da África, contando as histórias do seu povo.

Através das trilhas griôs, podem ser seguidos vários roteiros turísticos, combinando hospedagem em comunidades quilombolas e assentamentos, com banho de rios e cachoeiras, oficinas para fabricação de produtos artesanais, rodas de conversa e apresentações culturais. A agência Trilhas Griô, formada por jovens nativos, realiza estes passeios, feitos ao som de canções regionais.

HISTÓRIA DO GARIMPO

Conhecer o Rancho do Garimpeiro, na cidade de Lençóis, é uma outra forma de entrar na vida dos moradores. O espaço é dedicado à preservação da memória do garimpo de serra, atividade que foi muito difundida na região. Ali, há ferramentas, roupas e ranchos de taipa e barro onde esses trabalhadores se abrigavam. Além da réplica dos locais em que eles buscavam as pedras.

Festivais, arte e gastronomia

Os 24 municípios integrados à Chapada Diamantina têm brilho próprio: contam com atrações culturais, como festivais, e outros eventos que acontecem ao longo de todo o ano. É possível se hospedar em qualquer um deles, mas Lençóis costuma ser o principal ponto de partida para atividades turísticas. Por lá, opções culinárias não faltam. A cidade oferece opções que vão desde a cozinha contemporânea, em restaurantes como o Azul e o Cozinha Aberta, até outras voltadas para a gastronomia local, como o Fazenda e Cia.

Outro destaque no município são os tours pelos ateliês da cidade. Na Rua das Pedras, fica o de dona Edite, onde estão expostas as peças que ela confecciona desde pequena, em palha de coco e barro, como cestos e panelas. Ana Barros é outra com ateliê na mesma via, que já virou ponto turístico da região. Há mais de 20 anos, a artista cria bonecos que retratam a vida das mulheres quilombolas e nordestinas, através de materiais como papel machê e tecido.

Mais um ponto de visitação que tem feito sucesso na cidade: o Lavanda da Chapada, projeto que surgiu em 2015 e abarca 30 pessoas de uma mesma família, que cultivam a flor conhecida como lavanda-do-mar, de longa durabilidade após a colheita. Na visita, é possível acompanhar todo o processo de cultivo e o cuidado com a planta que, como diz o nome, é nativa da região. Os buquês colhidos estão expostos permanentemente no aeroporto de Lençóis.

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Em Igatu, distrito de Andaraí ? um dos principais municípios da região, localizado a cerca de 100km de Lençóis ? está a Galeria Arte & Memória, um museu a céu aberto, montado entre ruínas de antigas habitações, evidenciando a presença garimpeira por ali durante o século XIX e exaltando os vestígios dessa ocupação.

O espaço está incorporado a um conjunto de habitações garimpeiras, totalmente em ruínas, remanescente da época áurea da mineração de diamantes na Bahia. O local agrega um acervo de arte contemporânea e promove exposições de diferentes vertentes artísticas. No local, também estão expostos utensílios usados naquela ocasião.

É possível conhecer de perto uma antiga mina, reaberta por ex-garimpeiros do distrito para receber turistas. Durante a visita, eles próprios apresentam um pouco da história do ofício na região, incluindo ferramentas específicas e uma curiosa instalação artística: no salão principal, estão expostas esculturas representando os homens que trabalhavam no local. A obra foi produzida pelos empreendedores sob a direção do artista plástico Marcos Zacaríades. Na entrada da mina, ainda há um poço para banho, e a taxa de visitação sai a R$ 5.

A arte local da chapada é, de longe, o principal atrativo das cidades, e conhecer as formas de produção são programas que não faltam pela região. No município de Morro do Chapéu, a cerca de 160km de Lençóis, é possível visitar a Associação de Bordadeiras e Artesãos Morrenses, de graça, mas com visitação agendada. O grupo elabora produtos que contam o cotidiano da população baiana do semi árido. Em pinturas e peças de madeira e cerâmica. A entidade oferece cursos, e os trabalhos produzidos estão no Mercado Cultural de Morro do Chapéu.

A alta temporada na região vai de abril a novembro, mas há programação o ano inteiro, com diversos festivais e eventos turísticos. Entre eles estão o Ressonar, a Mostra de Dança e o Festival de Lençóis (todos em Lençóis) e o Escalada de Igatu Boulder (em Igatu, distrito de Andaraí).

Dicas para explorar a região

Melhor época. A alta temporada vai de abril a novembro, sendo que muitas trilhas e passeios têm o número de frequentadores controlado. O ideal é reservar com antecedência.

Apoio. É fundamental contratar guias: há trilhas longas e cenários desertos.

Preservação. Obedeça às regras já conhecidas: não deixe rastros, leve seu lixo embora, não interaja com os animais. Fazer fogueira é proibido.

O que levar? Tênis para caminhada, roupa leve, protetor solar, chapéu, óculos escuros e repelente.