Cotidiano

Grupo Triunfo repassou 2,7 milhões a operador de propina, diz MPF

SÃO PAULO E CURITIBA. A 36ª fase colocou o foco da Lava-Jato na concessão de aeroportos. O Grupo Triunfo, sócio da UTC no aeroporto de Viracopos e um dos alvos de mandados de busca e apreensão nesta quinta-feira, repassou, entre 2011 e 2013, pelo menos R$ 2,7 milhões a empresas do advogado Rodrigo Taclan Duran, apontado pelo Ministério Público Federal como uma espécie de interface entre corruptos e corruptores. A Construtora Triunfo, que pertenceu ao mesmo grupo até 2006, transferiu a Duran outros R$ 2,1 milhões.

– Operação de hoje aponta novamente para um quadro de corrupção sistêmica e lavagem de dinheiro contínua. São operadores que atuaram de forma contínua e prolongada, fazendo da lavagem de dinheiro a sua profissão. São diversas empresas, diversos esquemas, todos eles conectados, que revelam uma forma de atuar bastante organizada. O Estado só consegue resposta se agir de forma organizada – disse o procurador Júlio Noronha, um dos integrantes da força-tarefa.

Segundo os investigadores, o afastamento do sigilo bancário de Duran mostrou que ele recebeu R$ 1,5 milhão da Triunfo Participações e R$ 1,2 milhão da Econorte, administradora de rodovias do grupo que opera um trecho de 341 km, abrangendo BR-369, BR-153, PR-323, PR-445 e PR-090, que ligam São Paulo e Paraná e servem de rota alternativa para o Mato Grosso do Sul.

O procurador Roberson Pozzobon afirmou que Duran era um elo entre dois contextos criminosos, os corruptores e os corruptos, e pode levar a provas “muito ricas”.

– Essas empresas apresentaram apenas comprovantes dos pagamentos (a Duran) em notas fiscais. Não há comprovação da prestação de serviços advocatícios pelo contratado ? falou o procurador Julio Motta Noronha.

– Esse contratos serão analisados a partir de agora. Ainda não é possível formar juízo de valor sobre natureza das transações. O que buscamos é formar provas. Mas chama atenção que a Triunfo e a UTC são sócias e lavaram dinheiro com o mesmo operador – disse Pozzobon.

Segundo os investigadores, Duran atuava com contratos falsos ou superfaturados. UTC Engenharia e Mendes Junior, segundo a Lava Jato, repassaram respectivamente R$ 56 milhões e R$ 35 milhões ao escritório de advocacia de Duran.

– Eram contratos falsos, que não tinham qualquer finalidade, a não ser lavar dinheiro – afirmou Pozzobon. – São recursos muito volumosos lavados de maneira contínua.

Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, é um dos colaboradores da Lava-Jato. Segundo Pozzobon, já há provas de que Duran gerou pelo menos R$ 52,6 milhões em espécie, entre 2011 e 2013, para pagamentos de propinas de apenas duas empreiteiras, a Mendes Junior e a UTC Engenharia.

Numa das operações, Duran teria recebido da UTC para consultar se a empresa era alvo de processos no Tribunal de Contas da União (TCU). O escritório de advocacia gerou centenas de documentos para mostrar que a empreiteira não estava em determinados processos, quando, segundo Pozzobon, bastaria consultar o nome da empresa no site do TCU.

– Revela um grau mais sofisticado de lavagem, que distancia o contrato da origem dos recursos ? explicou. – Das dezenas de milhões de reais, o destinatário foi o próprio operador financeiro, beneficiado por meio de saques ou depósitos com R$ 61 milhões. A empresa transferia para o escritório, Duran sacava e devolvia em parte para a própria empreiteira.

Segundo o Ministério Público Federal, assim como Adir Assad, já condenado e preso na Lava-Jato e alvo também desta operação – Duran mantinha diversas empresas para gerar dinheiro para pagamentos de propina. Os repasses da UTC somaram R$ 9,1 milhões. Os da Mendes Junior, R$ 25,5 milhões. Outras empresas investigadas realizaram depósitos de mais de R$ 18 milhões.

Assad e Duran também fizeram operações entre eles. Os investigadores identificaram transferências de R$ 24,3 milhões de Assad para Duran. Assad teria ainda transferido R$ 2,9 milhões para Ivan Orefice Carratu, que segundo o MPF atua como operador e é ligado a Duran. A atuação do grupo, segundo os procuradores, foi revelada por delatores da Lava-Jato.

– Eles tinham relacionamento constante. São profissionais do crime, que comunicam-se entre si, operam entre si – definiu Pozzobon.

– Era uma verdadeira confraria criminosa. Diversos operadores que trabalharam para diversas empreiteiras. Para que isso não ocorra novamente, é preciso que o sistema seja aperfeiçoado. Nos preocupa cenário em que se fala em retrocesso legislativo, em enfraquecer as instituições. O juiz Sergio Moro já se pronunciou sobre projetos de lei que criam o crime de interpretação da lei. Se instituições não tiverem segurança e liberdade, vamos retornar ao estágio anterior – completou.

Assad, que já foi réu em outra fase da Lava Jato, já fora preso na décima fase da Lava Jato, e foi condenado pelo juiz federal Sergio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

A 36ª fase foi batizada ?dragão? numa referência ao termo usado por Duran em seus registros de contabilidade. Ele chamava de ?operação Dragão? negócios feitos para trazer ao Brasil dinheiro ilegal a partir de pagamentos feitos no exterior.

– Dinheiro em espécie no Brasil, usualmente de origem criminosa, era compensado com recursos existente no exterior – falou Pozzobon.

O Grupo Triunfo, que reúne a Triunfo Participações e a Econorte, ainda não se pronunciou. A assessoria informou apenas que a construtora não pertence mais ao grupo. A Construtora Triunfo também foi contatada mas ainda não deu retorno.