Cotidiano

Grupo de Apoio à Adoção comemora dez anos de vida

Toledo – São pais e filhos, em uma composição natural e simples como a vida tem que ser. A única diferença é que o parto vai além da maternidade e às vezes acontece no gabinete da Vara da Infância, quando, depois de cumpridas as legalidades, a Justiça consegue mostrar sua humanidade no sentido mais literal da palavra.

O Gaat (Grupo de Apoio a Adoção de Toledo) comemorou na última sexta-feira (6), com cerimônia festiva, sua primeira década e centenas de famílias formadas com laços afetivas, desafios e histórias emocionantes.

Muitos dos pais que participaram da cerimônia comemorativa ainda estão no começo da gestação que pode demorar anos ou meses. Outros já conhecem seus filhos e convivem com eles em momentos de muita felicidade e ansiedade. Assim como existem crianças que anseiam ser chamadas de filhos, homens e mulheres desejam mesmo é ser família e conhecidos como pai e mãe. O grupo de apoio é aquela fita de cetim em forma de laço que une as partes de forma legal, humana e natural.

Outras famílias já estavam completas e com aquela tranquilidade que apenas quem escolheu viver junto e compartilhar o amor tem no semblante. Um dia o telefone tocou e o embrião estava lá e um lar já preparado aguardava com ansiedade. Muitos ainda recém-nascidos outros adolescentes e até que desejou ser reconhecido na maioridade. Apenas filhos e pais, sem rodeios e tabus.

Lei e Sensibilidade

Em 16 anos de atuação na Vara da Infância, o juiz Rodrigo Rodrigues Dias vivenciou as mudanças na lei e na própria sociedade. Nos últimos dez anos, foram cerca de 240 adoções apenas na Comarca de Toledo, já com o intermédio de convivência do GAAT, que foi inspirado em um trabalho desenvolvido em Foz do Iguaçu e que hoje é referência para outros estados brasileiros.

A adoção de um filho mudou a própria Justiça e, além de todas as preocupações legais, pais biológicos e adotivos, crianças e adolescentes e as famílias ganharam fortes aliados nessa caminhada que a cada dia se torna mais humana. “Hoje os magistrados conseguem o respaldo legal para agir de forma muito mais ativa e sensível. Quem tem um papel tão importante na formatação de famílias não pode ser movido apenas por leis, mas deve cumprir a legalidade com amor e dedicação, elementos indispensáveis na construção de laços e de uma sociedade mais justa,” declara o juiz.

Dois lados

“A ideia de não ter crianças acolhidas em uma cidade nem sempre é uma boa realidade. O que não podemos admitir é que essa criança cresça em um ambiente institucional, que, mesmo com todos os cuidados, não é um lar. Temos que preservar os direitos, mas agir de forma que os processos sejam justos e ágeis, oportunizando que as famílias se recuperem ou se reconstruam através da adoção, em especial as tardias”, explica o juiz.

Rodrigo Rodrigues Dias conta que a sociedade também sofreu importantes transformações. “Uma criança pertence a toda a sociedade, então temos que garantir essa transformação chegue a igrejas, escolas, clubes de serviço e todas as demais organizações sociais que de alguma forma possam contribuir com a formação e acolhimento dos novos pais e filhos”, relata.

Dignidade e respeito

O respeito aos pais biológicos ganhou um novo capítulo e que contribui para que o processo seja ainda mais respeitoso e natural. O juiz lembra que a mãe que deseja fazer a entrega voluntária de seu filho para adoção é acolhida com muita dignidade e respeito pela Justiça. “Não podemos ser hipócritas e virar as costas para essa mulher em um momento tão especial e ao mesmo tempo desafiador”.

Segundo ele, não basta se posicionar contra o aborto, “precisamos dar segurança e garantir que mãe e filho tenha a garantia de um processo respeitoso, legal e acompanhado por profissionais que acolham, protejam direitos e auxilie em qualquer decisão, inclusive de arrependimento e decisão por enfrentar os desafios e adotar essa maternidade”.

“Sou imensamente grato por ter assistido a importantes capítulos da emocionante história da adoção. Observei os abrigos se esvaziando de maneira qualitativa, famílias legalizando situações que antes eram improvisadas. O GAAT é a maior prova que a Justiça tem coração e ele bate em centenas de lares de nossa cidade e região”, acrescenta o magistrado.