Cotidiano

Greve contra reforma trabalhista paralisa França

PARIS Os trabalhadores das usinas nucleares na França se juntaram ontem à onda de greves contra a reforma trabalhista do governo socialista, que tem provocado uma escassez de combustível e outros problemas econômicos. A paralisia crescente do país ocorre a duas semanas da abertura da Eurocopa, em 10 de junho. Os sindicatos convocaram um novo dia de protestos, o oitavo desde o início do movimento, há três meses, que em várias ocasiões acabaram em violentos confrontos com as forças policiais.

Segundo as autoridades, 153 mil pessoas foram às ruas em todo o país, enquanto os sindicatos falaram em 300 mil. Uma pessoa ficou seriamente ferida, segundo a polícia. Foram detidas 32 pessoas em Paris, 62 em toda a França. O ápice do movimento será uma manifestação em Paris, programada para 14 de junho, quatro dias após o início do campeonato europeu de futebol, que a França sediará.

FILAS NOS POSTOS DE GASOLINA

Sob pressão, o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, admitiu ontem a possibilidade de ?mudanças? ou ?melhorias? no projeto da Lei El Khomri ? assim chamado por causa da ministra do Trabalho, Myriam El Khomri ? e anunciou que receberia representantes do setor petrolífero amanhã. Mas Valls descartou a retirada do projeto.

? Entre 50% e 80% dos funcionários estão em greve, de acordo com as centrais ? afirmou a porta-voz da CGT nesse setor, Marie-Claire Cailletaud, admitindo que, para manter o abastecimento, a França ?provavelmente será forçada a importar energia? de países vizinhos.

A RTE, que administra a rede elétrica, afirmou que a oferta disponível ?é suficiente para cobrir as necessidades de eletricidade do país?. A oferta foi reduzida em 25% na central de energia elétrica de Nogent-sur-Seine, a cem quilômetros de Paris.

Longas filas se formam há vários dias nos postos de gasolina, e muitos racionam a venda de gasolina e diesel. O bloqueio de refinarias e depósitos de petróleo forçou o governo a utilizar suas reservas estratégicas de combustível. O Estado havia utilizado, até quarta-feira, três dos 115 dias de reservas disponíveis.

Enquanto dezenas de milhares de manifestantes tomavam as ruas, trabalhadores atenderam ao apelo do sindicato cruzando os braços em refinarias de petróleo, usinas nucleares e ferrovias. além de montarem barricadas em estradas e queimar pallets de madeira e pneus em portos essenciais, como o de Le Havre, e perto de grandes centros de distribuição.

O setor de transportes não ficou fora dos protestos. A companhia ferroviária SNCF aderiu à greve, na quinta paralisação desde março. E a Direção-Geral da Aviação Civil (DGAC) recomendou que as empresas reduzissem em 15% os voos programados para para o Aeroporto Paris-Orly.

O governo argumenta que a flexibilização das leis trabalhistas dará ao país mais competitividade e reduzirá o desemprego, hoje em torno de 10%. Já os sindicatos veem maior insegurança no trabalho. Eles criticam especialmente o artigo que permite que, caso uma empresa e seus funcionários queiram fechar um acordo contrário ao acordado com o sindicato da categoria, os trabalhadores poderão pedir um referendo. Se obtiverem maioria, sua decisão se sobrepõe à sindical. Valls afirmou que este artigo ?não será modificado?.