Cotidiano

Governo reage a críticas da PGR à PEC que limita gastos

BRASÍLIA – A posição da Procuradoria-Geral da República (PGR) de considerar inconstitucional a PEC que limita os gastos públicos, reforçou, para o Palácio do Planalto, a necessidade de aprová-la. No governo Temer, a reação foi de indignação com o que seria o real motivo da nota técnica: o desejo de aumento salarial. O reajuste da PGR está parado no Senado. Com a aprovação da proposta do teto, qualquer aumento salarial para o funcionalismo ficará sujeito à disponibilidade orçamentária e não só a vontade política, como acontece hoje. A justificativa usada pela PGR para defender a inconstitucionalidade foi a de que a PEC ofende a autonomia e a independência do Legislativo e do Judiciário.

? A manifestação da PGR é mais uma entre tantas outras com o objetivo de fazer pressão por aumento de salário. Se a gente ceder, o Brasil quebra em dois anos. Há categorias preocupadas apenas com o seu bolso ? reagiu um auxiliar presidencial.

Na noite de sexta-feira, após a manifestação da PRG dizendo que a PEC desrespeita a autonomia dos Poderes, o Palácio do Planalto respondeu com uma nota técnica. No sábado, o governo subiu o tom, acompanhando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os partidos aliados, que condenaram a posição da Procuradoria.

O presidente Michel Temer receberá neste domingo para um jantar, no Palácio da Alvorada, cerca de 400 parlamentares. A estratégia do encontro é garantir que os deputados estejam em Brasília na segunda-feira de manhã, quando começará a ser votada a PEC do teto.

Rodrigo Maia reagiu de forma dura à PGR. Disse acreditar que o Ministério Público Federal não considera que existam instituições ?mais indispensáveis? que outras. “Não há dúvida de que a superação da crise atual dependerá do empenho e comprometimento de todos. Num Estado de Direito, contudo, nenhuma instituição ou pessoa está acima das leis e da Constituição. Estou convicto de que o Ministério Público Federal não julga haver instituições mais indispensáveis que outras à realização dos fins constitucionais” afirmou Maia em nota.

Ele destacou ser ?distante da realidade? a visão da PGR de que o Executivo estaria se sobrepondo aos demais Poderes. Afirmou que o prazo de 20 anos para o controle de gastos ?não decorre de um capricho do Governo Federal, mas da profundidade da crise que enfrentamos?. E ressaltou que as autonomias dos Poderes sobre seus orçamentos continuam a prevalecer, mas ressaltou que já há previsão de que estes orçamentos devem ser de acordo com a legislação em vigor.

No fim da tarde de sábado, os líderes dos partidos da base aliada do governo se uniram e divulgaram uma nota conjunta condenando a manifestação da PGR e defendendo a PEC que limita os gastos. Assinada pelas lideranças de 21 partidos, a carta prega a união de todo o país em torno do ajuste fiscal.

“O Estado não pode ser maior do que nosso povo. A PGR não deve ser maior do que todos os esforços de uma nação. Neste esforço nacional de recuperação não podem haver privilégios ou salvaguardas. Não é justo cobrar esforço de uns em detrimento de outros. Nunca haverá a união nacional necessária em momentos de crise enquanto alguns enxergarem-se mais importantes do que outros. Nossa Constituição é clara: Todos são iguais perante a lei. Portanto, nosso trabalho concentra-se no esforço em equilibrar as contas públicas respeitando nossa Carta Magna”, diz a nota.

O texto também insinua que a nota da PGR demonstrou interesses corporativos por trás da crítica à PEC.

“Sabemos, que para resgatar o rumo correto, necessitamos de disciplina fiscal. Toda a administração pública precisa unir-se em um esforço conjunto no intuito de recuperar nossa economia. Nenhum órgão deve fazer pressão no intuito de manter suas benesses.”, dizem os líderes no texto.

Entre os signatários há inclusive partidos que se posicionam de forma independente ao governo, como PV e PSB. Além deles, assinam a liderança do governo, do PMDB, PSDB, DEM, PP, PR, PSD, PRB, PTB, SD, PTN, PPS, PSC, PHS, Pros, PEN, PT do B, PSL, PRP e PRTB.

Mais cedo, o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), afirmou que a posição da PGR foi um tiro no pé porque reforça entre os parlamentares o sentimento de necessidade de impor um limite de gastos públicos:

? Só reforça nossa convicção. O que me chamou a atenção na posição da PGR é que a PEC é inconstitucional por limitar os gastos pelos próximos 20 anos, mas por cinco ou dez anos, não.

O líder do PMDB na Câmara, deputado Baleia Rossi (PMDB-SP), argumentou que a proposta passou pelas comissões que analisam sua constitucionalidade e que nada foi violado:

? A PEC foi amplamente debatida na comissão especial e acreditamos na sua constitucionalidade é que é a única saída para superarmos o caos que vivemos na nossa economia.