Cotidiano

Glória ganha espaço para a arte contemporânea

RIO ? O amplo e luminoso espaço de 600m² é de causar inveja a muitos galeristas. Ainda por cima, está situado num dos endereços mais charmosos da cidade, a Villa Aymoré, conjunto histórico de casas do século XIX na Glória, Zona Sul, restaurado no ano passado para ser usado como um condomínio empresarial. É no segundo andar da casa principal, a que serve de entrada ao local, que abre as portas ao público, neste sábado, o Jacaranda (sem acento mesmo), espaço de produção e pensamento sobre a arte, onde haverá exposições, encontros e cursos. Para marcar a abertura, está sendo realizada uma coletiva, ?Do clube para a praça?, organizada por Luisa Duarte, crítica do GLOBO, com obras de 26 nomes de relevo da arte contemporânea.

O Jacaranda será um espaço físico permanente do Arte Clube Jacarandá. O grupo foi criado há cerca de dois anos, a partir do desejo de alguns artistas de se reunir, trocar ideias e propor ações ? uma delas é a revista bilíngue ?Jacaranda?, editada pelos artistas Raul Mourão e Gustavo Prado, reunindo ensaios, perfis e entrevistas. O número 2 será lançado durante a exposição (na verdade, esta é a terceira publicação, já que houve um número 0). Outra ação é uma exposição na Cidade das Artes, ainda sem nome, a ser inaugurada em 23 de julho. Em seguida virão novas iniciativas, pensadas para movimentar o local e fazer dele um ponto de referência em arte contemporânea na cidade. O Clube Jacarandá chegou a ter uma sede provisória em Santa Teresa, cedida por um investidor inglês, mas, com a venda do imóvel, passou a alternar seus encontros entre os ateliês dos artistas integrantes.

Aymoré

? Gosto de pensar na ideia de que o Jacarandá é uma máquina centrifugadora. Está aqui, mas se espalha ? diz o escultor José Bechara, um dos integrantes do núcleo inicial.

Bechara tem uma obra da sua série de pinturas tridimensionais pendurada no saguão de recepção da Villa Aymoré, ao lado de uma pintura de Arjan Martins.

? Você tem a chamada força centrípeta que se encolhe, traz para dentro, que é egoísta. O Jacarandá é uma plataforma muito generosa. A gente quer espalhar a produção artística e o pensamento que é gerado por ela ? completa ele.

A fachada do local ganhou mais uma escultura, de Iole de Freitas. Dentro, espalhados por três espaços expositivos, há pinturas de Carlos Vergara, Luiz Zerbini, Cabelo, Daniel Senise e Gabriela Machado, esculturas de Angelo Venosa, Carlito Carvalhosa, Raul Mourão e Afonso Tostes, objetos de Vik Muniz e Barrão, além de obras de Daisy Xavier, Oskar Metsavaht, fotografias de Vicente de Mello e uma instalação sonora de Paulo Vivacqua, entre outros.

O novo espaço foi possível graças ao perfil do grupo Investidor Profissional, um dos responsáveis pela restauração da Villa Aymoré, também por trás do Pipa, Prêmio Investidor Profissional de Arte.

? Eles procuravam um empreendimento cultural para movimentar o lugar como ponto cultural na cidade, e fizeram o convite para ocupar o primeiro bloco da vila ? conta João Vergara, filho do artista Carlos Vergara e responsável pela parte ?invisível? do grupo: a administração e a viabilização comercial.

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Raul Mourão, outro artista do núcleo inicial do Jacarandá, conta que as adesões ao projeto foram muitas.

? O (arquiteto) Miguel Pinto Guimarães deu um jeito no espaço, o Maneco Quinderé fez a luz, temos conseguido várias contribuições. Agora vamos começar a pensar estratégias para viabilizá-lo financeiramente ? diz.

O novo espaço ficará aberto ao público, por enquanto, de terça a sexta-feira, das 13h às 18h, para visitas à exposição. A ideia é que o funcionamento possa ser estendido à medida que outras ações ? como palestras, workshops e cursos ? comecem a tomar forma. O local deve ganhar uma biblioteca e um bar.

? Espera-se, de toda obra de arte, que ofereça reflexão ? comenta Bechara. ? O Arte Clube Jacarandá é uma plataforma feita por artistas, pensada por artistas, para todos que se interessam por esse campo.