Cotidiano

Gato criado a iogurte de morango na Rocinha vira destaque na imprensa internacional

RIO – Criado na Favela da Rocinha, em São Conrado, um gato vira-lata, de pelo amarelado e branco, com quase um metro de comprimento (do rabo ao focinho) e cerca de 11 quilos, virou celebridade internacional. Figurinha fácil na orla carioca e bem conhecido dos frequentadores da Praia de São Conrado, por onde costuma andar de moto, de carona com seu dono, Chiquinho, de 12 anos, foi notícia na terça-feira nas agências internacionais e ganhou destaque no inglês “The Telegraph” e no americano “The New York Post”.

— Sério? Eles fizeram umas fotos na segunda-feira e nem imaginei que as reportagens fossem publicadas tão cedo. Agora meu gato está mundialmente famoso — vibrou o comerciante Alexandre Goulart, de 62 anos, dono do felino.

Chiquinho e Alexandre dividem uma casa apertada na localidade Roupa Suja, na Rocinha. No quarto e sala, há pouca mobília. O único luxo do agora internacional Chiquinho é a dieta alimentar.

— Ele é viciado em comida. Fica louco quando encontra sua vasilha vazia. Aqui falta muita coisa, menos comida pra ele — conta o comerciante.

CARDÁPIO VARIADO

O cardápio de Chiquinho, que não à toa é conhecido também pelo apelido de “Garfield”, o gato apaixonado por lasanha das tirinhas, é variado e demora para ser preparado. Tem direito a entrada, quase sempre cenoura em tiras finas e rodelas de beterrabas frescas, amassadas com cuidado e depois misturadas com iogurte. Chiquinho prefere o de sabor morango. O prato principal fica por conta de rações de uma marca famosa.

Na orla do Rio, Chiquinho costuma atrair olhares. Em 2014, foi notícia no GLOBO, depois de ser flagrado a bordo da Harley-Davidson de Alexandre, com óculos escuros, boné e muito charme:

— Ele adora andar de motocicleta. Já viajamos muito. De moto, praticamente já conhecemos tudo aqui no Rio.

A história de Alexandre e Chiquinho envolve, além de amor, superação. Antes de ir morar na Rocinha, Alexandre tinha uma oficina no Grajaú. Vivia bem, tinha casa própria e seis motocicletas, quatro delas Harley-Davidson (ele batizou os filhos mais novos de Harley Street e Davidson Cross).

— Perdi tudo para a cocaína. Comecei com álcool, bebendo sem parar, e engatei nas drogas. Foi terrível. Acabei me separando e praticamente abandonei meus filhos. Hoje estou limpo — diz o comerciante.

No período ruim, ele, que está livre das drogas há 22 anos, foi parar na Rocinha, onde acabou conhecendo, anos depois, sua segunda mulher.

— Ela me estendeu a mão, me ajudou em tudo que sou agora. Uma pessoa fantástica. E já veio com o Chiquinho, um gatinho de dois meses — lembra.

Chiquinho virou sua grande paixão.

— Foi tanto amor que ela me abandonou. Disse que eu gostava mais do gato do que dela. Uma pena. Não é verdade, mas é assim, a fila anda — brinca, para se corrigir logo em seguida. — Ainda gosto dela.

Na Rocinha, Alexandre voltou aos negócios: abriu um brechó de eletrodomésticos. Comprou uma casa e duas motocicletas. Os negócios não estão bem, mas ele tem planos.

— O Chiquinho faz tanto sucesso que agora estou querendo oferecê-lo para fotos, comerciais e para atuar em filmes e novelas. Se você souber de alguma coisa, pode me avisar?