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Futebol: caminho para o ouro passa pela reconciliação com o Maracanã

RIO – A história não será apagada, mas pode ganhar novos capítulos, estes bem mais amenos, reforçando a tese de que o futebol sempre oferece novas oportunidades. A partir desta terça-feira, o Brasil inicia uma semana que, se não representará uma redenção completa, pode ajudar a diminuir complexos. A seleção feminina pisa o Maracanã às 13h, para enfrentar a Suécia por um lugar na final. Na quarta-feira, serão os homens contra Honduras. Se ambos passarem, o destino pode promover duas finais seguidas contra a Alemanha, ícone da depressão nacional.

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Talvez nenhuma modalidade tenha entrado nos Jogos Olímpicos com tamanha crise de crédito quanto o futebol. Sem falar na crise de resultados, algo que no Brasil não costuma ter perdão. Se dois ouros, metal que o país não esbanja neste Rio-2016, não significarão que todos os problemas do futebol estarão resolvidos, haveria, ao menos, enorme peso simbólico. Em 2014, na Copa do Mundo, a seleção ficou devendo um encontro com o Maracanã. Agora, ele acontecerá: em dose dupla nas semifinais e, em dose quádrupla se mulheres e homens forem às finalíssimas. Vitórias manterão vivo o sonho de fazer com que a medalha de ouro, pedra histórica no sapato do futebol brasileiro, deixe de ser um tabu. E, por fim, a hipótese de um encontro duplo com a Alemanha, os primeiros em terras brasileiras desde o 7 a 1.

Futebol 15 de agosto– Estava pensando na Suécia, não numa final com a Alemanha. Um passo de cada vez. Mas seria legal uma final dupla. Não falo em 7 a 1, mas seria bacana vencer a Alemanha no Maracanã – disse a volante Thaísa.

– Pensei nisso, numa final dupla. Não está longe de acontecer, e só depende de nós. Seria uma nova história, e em dobro – emendou a zagueira Mônica.

No torneio feminino, as alemãs enfrentam nesta terça-feira o Canadá, no Mineirão. No masculino, a partida por um lugar na final é na quarta, contra a Nigéria.

Há um esforço das comissões técnicas para deixar tal tema em segundo plano por enquanto. O reconhecimento de que o humor do país muda com resultados fez o técnico Rogério Micale, do time masculino, pedir análises mais realistas.

– É o que não deveria pautar a análise: esta oscilação de humor. Quando você quer construir uma casa, contrata um arquiteto, depois um engenheiro. Se no meio do processo você decide que o arquiteto não serve e põe tudo abaixo, nunca constrói. Tomara que a gente ganhe as duas, mas não é sinal de que tudo está perfeito – disse Micale.

Curiosamente, o que era tabu pode virar recorde no masculino. Se subir ao pódio, o Brasil passa a ser país com mais medalhas na história: seis. Mas só o ouro inédito será visto como triunfo.

UMA NOVA HISTÓRIA

Tudo passa pelo Maracanã, estádio que mexe com homens e mulheres e onde o Brasil não joga desde 2013, na final da Copa das Confederações.

– Espero que o ambiente do Maracanã motive as pessoas a olhar mais o futebol feminino – disse Vadão, técnico das mulheres.

Único carioca do elenco masculino, criado no bairro do Maracanã, Renato Augusto celebra a volta ao estádio. Mas evita pensar numa final.

– Não gosto de dar passos maiores do que a perna. Vou pensar em Honduras, jogos contra times assim podem ser até mais difíceis. Times de mais peso se abrem mais – disse.

O estádio povoa o sonho de alguns jogadores. Em especial de quem saiu cedo do Brasil, como o zagueiro Marquinhos.

– Tantos jogadores brasileiros cresceram ouvindo histórias do Maracanã, sobre tudo o que já foi vivido ali dentro. É um palco especial. É hora de ter o pezinho no chão e deixar de lado todo esse alvoroço que deve cercar o jogo – alertou.

Já o goleiro Wéverton admitiu que uma oportunidade pode se apresentar dois anos após o 7 a 1.

– O que temos é a chance de mudar a história, de tentar fazer diferente – disse.