Cotidiano

?Furto de energia em área de risco supera os 50%?, diz presidente da Enel Brasil

INFOCHPDPICT000062568830RIO – No Brasil desde 2007, o grupo italiano Enel quer se tornar mais conhecido por seus clientes. A partir de hoje, suas empresas no país, como a distribuidora Ampla, passarão a usar o nome Enel. Junto com a mudança de marca, a companhia promete melhorar a qualidade dos serviços, reduzindo à metade a duração das interrupções no fornecimento de energia em cinco anos. Outra ação em curso é o pedido de revisão do contrato ao órgão regulador, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), motivado pelo aumento no furto de energia. A distribuidora, presente em Niterói e em outros 65 municípios do estado, tem perdas anuais de R$ 100 milhões por ano com o roubo de eletricidade, principalmente em áreas de risco. A empresa está mapeando o crescimento dessas localidades.

A partir de hoje, todas as empresas do grupo no Brasil, como a distribuidora de energia Ampla, terão o nome Enel. Por que?

A mudança da marca é parte de um processo no grupo, porque o mundo está mudando no setor elétrico. De um lado, estão novas tecnologias e, de outro, o consumidor está mudando sua forma de interagir com a eletricidade.

Por que unificar a marca?

Neste processo de mudanças, achamos que é preciso escolher uma nova imagem e marca que reflitam essa mudança. E, no Brasil, operávamos com muitas marcas.

Como se chamará a Ampla?

Será Enel Distribuição Rio. As contas de luz terão o novo nome a partir de janeiro.

O que muda para o consumidor?

No caso específico da área de concessão da Ampla (66 municípios no Estado do Rio), a empresa está em um processo de forte investimento na melhoria da qualidade dos serviços. Vamos pôr uma ?cara? internacional. Estamos trazendo as melhores tecnologias que temos na Europa para controle remoto da rede, na perspectiva de melhorar significativamente nos próximos anos a qualidade dos serviços.

Quais são as metas?

Em cinco anos, reduzir em mais da metade a duração das interrupções (no fornecimento de energia), que, em dezembro 2015, foi de 27,8 horas. E, consequentemente, a redução da frequência das interrupções, que foi de 13,25 vezes.

Os investimentos da Enel (Ampla) vão aumentar nos próximos anos?

Ano passado, houve investimento recorde de R$ 803 milhões, e neste ano, até setembro, já investimos R$ 571 milhões. Seguramente, nossos investimentos serão superiores ao histórico passado. Não posso informar o valor (no próximo dia 22, a empresa divulgará seu plano de negócios), mas o que posso falar é que acreditamos no país.

A Enel continua interessada na compra da Celg, distribuidora em Goiás?

A estratégia do grupo Enel é em redes (de distribuição) e renováveis. É claro que um ativo como a Celg é coerente com a estratégia do grupo.

Qual é o impacto do furto de energia para a empresa?

Nosso nível de perda de energia é de cerca de 20%, dos quais a maior parte é furto, que representa uma perda de receita de R$ 100 milhões por ano, que não é reconhecida pelo órgão regulador (a Aneel).

O que a empresa está fazendo para reduzir essas perdas?

Fazemos um trabalho interno no sentido de melhorar nossa capacidade de reduzir os furtos. Por outro lado, estamos fazendo um trabalho para mapear todas as áreas de risco, onde basicamente é impossível operar, porque são áreas que não são favelas, mas são territórios sob o controle do tráfico e das milícias onde não podemos entrar. É um balanço energético das áreas de risco, onde tem um estado quase paralelo. A taxa de furto nessas áreas é superior a 50%, e elas cresceram muito nos últimos anos por causa do fenômeno da pacificação das favelas no Rio de Janeiro. Isso gerou uma migração para nossa área de concessão. Em 2008, eram 75 mil clientes em área de risco na área de concessão da Ampla. Agora, são cerca de 450 mil clientes em áreas de risco, e o regulador não levou isso em conta na medição dos níveis de perdas.

Como está sendo feito esse levantamento?

Estamos medindo o fenômeno, trabalhando com a Universidade Federal Fluminense num estudo para propor um modelo diferente para definir o que é uma área de risco. Porque o modelo regulatório da Aneel agora tem alguns parâmetros que, na nossa opinião, não refletem a situação verdadeira do Estado do Rio de Janeiro.

A Enel pretende propor mudanças na forma de calcular as perdas de energia. Quanto dessas perdas deve ser assumido pela concessionária e quanto pelos consumidores?

O regulador define um valor de perdas em função de um modelo socioeconômico da área de concessão. Em nossa opinião, esse modelo não é adequado para fazer a modelagem da realidade do Rio de Janeiro. O modelo da Ampla gera um nível de perdas reconhecidas que estão longe da realidade.

A Ampla perde cerca de 20% da energia fornecida. O consumidor já arca com três quartos desse total. Se o modelo mudar, a proporção vai aumentar?

É a vida. Alguém tem de pagar. Um pouco sim, mas será dividido com todos os consumidores. As tarifas de energia estão baixando agora, então tudo isso não representará aumento de tarifas em 2017. Numa simulação, se todas as perdas com o furto da energia fossem repassadas aos consumidores, ao final, as tarifas de energia seriam basicamente iguais às de hoje.

Mas não é injusto passar todos os custos ao consumidor?

Como pode uma concessionária ter de arcar com custos por territórios onde não pode trabalhar? Alguém tem que arcar. O consumidor vota, ele pode mudar algo, a concessionária não vota, não pode mudar nada.

Mas a ideia é que o consumidor deveria pagar por todo furto de energia?

Não estou dizendo isso. Estou dizendo que hoje a meta é tão irrealista que não tem jeito. Aceitamos ter uma meta desafiadora, mas tem que ser possível, factível. Por isso estamos levantando as áreas de risco. Não tem furtos só na área de risco.

Quando o estudo de mapeamento das áreas de risco ficará pronto?

Entre março e abril de 2017. O processo de mudança do modelo regulatório demora anos. Existe um trabalho de médio prazo para ver se conseguimos que o modelo socioeconômico das áreas de concessão reflitam mais a realidade.

Como estão as dívidas do Estado do Rio?

Tem um atraso nos pagamentos, mas prefiro não falar sobre isso.

A Enel continua disposta a aumentar investimentos no Brasil apesar da crise do setor e do país?

Tudo o que está se passando é uma prova de que o Brasil é um país forte, que tem constitucionalidade. Uma grande crise é uma grande oportunidade. O Brasil claramente se encaixa bem com as estratégias da Enel, no sentido de que tem um potencial para energias renováveis entre os melhores do mundo, tem muitos consumidores e uma expansão demográfica. A Enel não olha o país com visão de curto prazo, mas de longo prazo. Não obstante essas crises nos últimos dois anos, o Brasil tem um potencial importante. Por isso nunca paramos os investimentos. Vemos um futuro melhor, as taxas de crescimento devem ser menores, mas é um país com áreas de grande crescimento, com fome de eletricidade.