Cotidiano

Fundos de investimento captam R$ 73,6 bilhões no ano, melhor resultado desde 2013

RIO – A indústria brasileira de fundos de investimento registra este ano sua maior captação de recursos, até o terceiro trimestre, desde 2013, atraindo R$ 73,6 bilhões, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira pela Anbima, associação que reúne entidades do mercado de capitais. Após um segundo trimestre fraco, que gerou ingressos de apenas R$ 5,2 bilhões, os sintomas de estabilização econômica e política favoreceram a indústria de fundos no terceiro trimestre, levando a uma captação líquida de R$ 29,4 bilhões. A despeito da disparada de quase 35% da Bolsa no período, o crescimento de 2,3% do patrimônio dos fundos foi quase todo provocado por apostas conservadoras em renda fixa e previdência privada (em sua maioria, também de renda fixa).

? O ano segue apresentando uma série de desafios pela frente, o que gera volatilidade e, logo, favorece produtos mais conservadores ? afirmou o vice-presidente da Anbima, Carlos Ambrósio. ? Voltamos a trabalhar com patamares de captação bem melhores que os de 2015 e 2014, o que indica uma retomada de fôlego na indústria. Na renda fixa, houve um fluxo especial de investimentos vindo do segmento corporate (empresas), com as companhias melhorando sua liquidez e optando por esse tipo de aplicação. Mas também tivemos fluxos importantes vindos do varejo.

Considerando-se todas as classes de fundos, a captação líquida gerada pelo segmento corporate foi de R$ 30,4 bilhões até agosto, enquanto a do varejo foi de R$ 16,7 bilhões. Um dos fatores que ajudaram a captação do varejo, segundo a Anbima, foram os saques à poupança pelos pequenos investidores. O poder público proporcionou captação positiva de R$ 5,4 bilhões e os estrangeiros, R$ 4 bilhões. Entre os investidores institucionais, os fundos de pensão fizeram resgates líquidos de R$ 8,9 bilhões. Mas, excetuando-se os fundos de pensão, os outros investidores institucionais, como seguradoras, proporcionaram captação positiva de R$ 21 bilhões no ano.

A captação líquida dos fundos da classe de renda fixa foi de R$ 31,2 bilhões no ano, enquanto a dos fundos de previdência atingiu R$ 28,6 bilhões. O pior desempenho do ano é o da classe de ações, que registrou retiradas de R$ 3,89 bilhões no período. Os fundos multimercados, que têm maior liberdade para montar suas carteiras e costumam se beneficiar de momentos de turbulência, captaram R$ 10,4 bilhões em 2016.

MUDANÇA DE ESTRATÉGIA

Embora os fundos de renda fixa continuem sendo o grande ímã de captação da indústria, Ambrósio acredita que a mudança do cenário econômico, com expectativa de queda de juros e retomada da atividade, levará a uma mudança de estratégia dos investidores. Mas ele ponderou que o processo deve ser gradual.

? Começaremos a ver, sim, uma mudança, mas ela vai ser gradual, não representará nada muito brusco. Devemos começar a identificar um movimento maior de diversificação quando estivermos no meio para o fim do processo de redução de juros. Já vemos um certo fluxo para a renda variável, com a alta da Bolsa no ano, mas esse foi apenas o início de um ciclo ? explicou Ambrósio. ? Esse movimento deve favorecer os fundos multimercados e de ações.

Um possível sintoma dessa mudança na estratégia é o fato de a renda fixa ter registrado captação líquida negativa em setembro, de R$ 13,5 bilhões, enquanto o segmento de ações avançou R$ 511 milhões. Os fundos de Renda Fixa Duração Baixa Soberano (os antigos fundos DI) encolheram R$ 9,28 bilhões no mês, enquanto os Renda Fixa Duração Baixa Grau de Investimento ? anteriormente chamados de Curto Prazo e principal destino de investimento no ano ? tiveram resgate de R$ 2,5 bilhões.

? É difícil identificar um movimento pontual. Esses dois produtos são usados para gerar caixa e liquidez, por exemplo. Mas eu acredito que o período de realocação já começou, sim ? acrescentou o vice-presidente da Anbima.

A associação não faz uma projeção, mas Ambrósio observou que o último trimestre do ano costuma ser ruim para a indústria, registrando em média captação líquida negativa da ordem de R$ 20 bilhões. Se essa tendência se confirmar este ano, o mercado deve fechar 2016 com captação líquida acima de R$ 50 bilhões, um salto em relação aos R$ 7,9 bilhões de 2015 e aos R$ 7,6 bilhões de 2014. O resultado seria pior, porém, que o de 2013, encerrado com ingressos de R$ 64,1 bilhões nos fundos de investimento.