Política

Folga em vez de hora-extra

Os trabalhadores de supermercados convivem com uma rotina intensa, que está amparada na legislação trabalhista e também em convenções sindicais. Apenas em quatro datas as portas deste ramo são fechadas: Natal, Ano Novo, Páscoa e 1º de Maio (Dia do Trabalhador).

Engana-se quem pensa que caixas, repositores, açougueiros, padeiros e zeladores recebem, ao fim do mês, pelo trabalho em domingos e feriados. Com a justificativa da “crise econômica”, os empresários preferem outra brecha legal: dois dias de folga e um bônus entre R$ 30 e R$ 40 pelo trabalho em feriados nacionais. Para cada domingo trabalhado, a folga é de apenas um dia. “É uma cláusula permitida na convenção trabalhista”, diz Osvaldecy Pisapio, vice-presidente do Sindec (Sindicato dos Empregados no Comércio de Cascavel e Região).

O decreto que reconhece o setor supermercadista como atividade essencial da economia pelo presidente Michel Temer (MDB) – assinado em agosto do ano passado – trouxe um novo agravante aos trabalhadores: ficar ao lado da família aos fins de semana e feriados ficou ainda mais difícil. Para os empregadores o efeito contrário é o desestímulo de trabalhadores ao setor. Muitos estão desistindo da atividade e recorrem as vagas de outros setores.

Reflexo no setor

Reflexo sentido pela Apras/Oeste (Associação Paranaense de Supermercados). “O setor acaba perdendo trabalhadores a outros setores que oferecem folga já a partir de sexta-feira”, diz Rudimar Erbert, presidente da Apras/Oeste. Ele alega que os supermercados acumulam prejuízos em virtude do atendimento aos domingos e feriados. “O custo é uma comodidade ao consumidor. O movimento fica dividido entre esses dias, mas voltar e fechar as portas aos domingos e feriados não é nem cogitado”.

Contrariando as grandes redes e até o clamor dos consumidores, o presidente da Apras/Oeste não abre as portas aos domingos e feriados. “O funcionário trabalha descontente. É só ver quando vai ao mercado aos domingos. Além disso, a família não se reúne segunda-feira ou outro dia da semana – quando seria compensado o trabalho extra”, diz Erbert.

Em Cascavel e outras 18 cidades da região conta com oito mil funcionários de supermercados que dependem da negociação anual entre patrões e sindicato para melhorar as condições de trabalho. “Na maioria das vezes, os empresários têm preferido a folga, caso contrário, eles deveriam pagar 100% das horas trabalhadas – o que para eles é considerado inviável pela crise econômica”, diz Pisapio.

 

Comércio reivindica 7%

A partir do próximo mês o Sindec inicia negociação com os patrões. A cobrança em favor de 20 mil trabalhadores de 19 cidades do Oeste do Paraná é de reajuste de 7%, destes 5% para reposição de inflação e 2% de aumento real. A assembleia para formalizar a reivindicação está marcada para a próxima segunda-feira. “Tivemos inflação e os trabalhadores vêm perdendo há muito tempo. Por isso, essa média seria uma boa reposição salarial, tanto de funcionários do comércio em geral quanto de supermercados”, diz Osvaldecy Pisapio, vice-presidente do Sindec.