Cotidiano

Fiocruz pede a Temer que nomeie vencedora de eleição da instituição

RIO- A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vive um momento de incerteza em relação à cadeira de presidente da instituição. Os funcionários elegeram, em pleito realizado no fim do ano passado, a socióloga Nísia Verônica Trindade Lima, mas ainda não sabem se ela será nomeada ao cargo. Como antecipou Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO, desde os últimos dias de 2016, circulam informações dando conta de que o ministro da Saúde, Ricardo Barros, escolheria para o posto a médica Tania Cremonini de Araújo-Jorge, que ficou em segundo lugar na eleição interna. fiocruz

A expectativa era de que a nomeação de Tania fosse publicada nesta segunda-feira no Diário Oficial da União. Como isto não aconteceu, a diretoria da FioCruz alimenta esperanças de que o Palácio do Planalto siga o resultado do pleito.

? Há mais de 20 anos, o processo eleitoral da Fiocruz é respeitado pelos presidentes. Recebemos com perplexidade a informação de que a vencedora não seria nomeada desta vez. A Nísia preenche todos os requisitos para esse cargo, é uma pesquisadora com 30 anos de Fiocruz, sem nenhum vínculo partidário ? diz o médico Paulo Gadelha, atual presidente da Fiocruz.

Segundo ele, o Ministério da Saúde tem a prerrogativa formal de escolher o presidente, que em seguida é nomeado pelo presidente da República. Mas, desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, a vontade da maioria dos servidores da Fiocruz é respeitada.

? Quando não vimos a nomeação da segunda colocada hoje no Diário Oficial da União, ficamos com a esperança de que o presidente possa ter se sensibilizado, depois de todos os contatos que fizemos. Esperamos que esse ruído seja desfeito e que possamos voltar à normalidade dos trabalhos em prol da ciência? afirma Gadelha.

Os rumores de que Barros colocaria no cargo Tania de Araújo-Jorge, que teve 1.695 votos, e não Nísia Lima, que venceu com 2.556 votos, fizeram com que os membros da instituição se mobilizassem. Para reivindicar a nomeação de Nísia, a Fiocruz escreveu uma carta ao presidente Michel Temer, que foi publicada na internet em forma de abaixo-assinado. A petição on-line já tem cerca de 7.100 adesões defendendo que a escolha da Fiocruz seja referendada. O texto destaca a alta taxa de comparecimento às urnas, 82,1% (4.415 servidores), e afirma que o resultado final do pleito foi homologado pelo Conselho Deliberativo da instituição.

?Devemos preservar o processo de gestão democrática e participativa da Fiocruz, tão duramente conquistado e construído por nossas instituições de ensino e pesquisa e que tem sido fundamental para tornar a Fundação Oswaldo Cruz referência na área de ciência e tecnologia nacional e internacionalmente”, diz o texto da petição on-line.

PESQUISAS RELEVANTES

Na carta, a Fiocruz afirma que a gestão democrática da instituição está na base dos bons resultados obtidos no campo da ciência recentemente. Os avanços nas pesquisas sobre zika e microcefalia em bebês, e também o registro de teste diagnóstico para zika, dengue e chicungunha são alguns dos êxitos citados no texto. A nota menciona ainda o trabalho da pesquisadora Celina Turchi, eleita pela revista ?Nature? uma das dez personalidades do ano de 2016 na ciência, devido a seu trabalho ligado à epidemia de zika.

O GLOBO entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber quem será escolhida para o cargo, mas até o fechamento desta edição a pasta não havia dado uma resposta sobre o impasse.