Cotidiano

Filhos nascidos de tratamentos com injeção de espermatozóide herdam problemas

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RIO – Filhos concebidos após a técnica de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozóides (ICSI, na sigla em inglês) apresentaram uma qualidade mais baixa em esperma do que aqueles que não passaram pela reprodução assistida, revelou estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica ?Human Reproduction?. Para os autores da pesquisa, os resultados reforçam a hipótese de que filhos herdariam a baixa fertilidade dos seus pais. As informações são da ?BBC?.

A técnica consiste em extrair um único espermatozóide, de boa qualidade, que é injetado diretamente no óvulo. A ICSI foi desenvolvida na década de 1990 para auxiliar homens com uma baixa quantidade de espermatozóides, espermatozóides mal formados ou com dificuldades de locomoção.

O estudo publicado na ?Human Reproduction? foi realizado na Universidade de Brussels, onde a ICSI foi desenvolvida, e envolveu 54 homens com idades entre 18 e 22 que foram gerados a partir da técnica, comparados com outros 57 indivíduos na mesma faixa etária, porém concebidos sem reprodução assistida.

Os homens nascidos da técnica apresentaram, em comparação com o segundo grupo, quase metade da concentração de esperma e um número duas vezes menor no total de espermatozóides e espermatozóides móveis ? aqueles que se locomovem bem. Eles também tiveram três vezes mais chance de serem enquadrados no que a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera abaixo do nível normal de concentração no sêmen, de 15 milhões de espermatozóides por mililitro.

O professor Andre Van Steirteghem, que liderou o estudo, afirmou que esta foi a primeira oportunidade de testar uma teoria de longa data de que os filhos concebidos através da ICSI herdariam problemas na qualidade do esperma. Mas ele disse que os resultados se mostraram mais complexos que o imaginado:

? As características do sêmen de pais que passam pela ICSI não adiantam os valores do sêmen de seus filhos. É sabido que fatores genéticos têm um papel na infertilidade masculina, mas muitos outros fatores também podem interfirir ? afirmou o pesquisador à ?BBC?.

O professor Richard Sharpe, que comanda o centro de pesquisa em saúde reprodutiva masculina na Universidade de Edimburgo, ressalta que uma vez que ainda são incertas as causas para a infertilidade masculina, não é ainda seguro afirmar que os problemas de fertilidade paternos seriam ?herdados?.

? Um aspecto importante é que os resultados nos lembram que a ICSI não é um tratamento para a infertilidade masculina, mas simplesmente uma forma de transferir um problema e deixar para a próxima geração resolvê-lo, algo que lamentavelmente minha geração parece bem adepta a fazer ? acrescentou Sharpe.