Opinião

Fidelidade e infidelidade na relação de casal

Fidelidade e infidelidade na relação de casal

Com a postagem de hoje, damos início a uma série de reflexões em torno de um tema particularmente desafiador: a fidelidade/infidelidade na relação de casal. A experiência mostra que a principal fonte de sofrimento entre os casais está relacionada à infidelidade de um dos cônjuges. Não poucas vezes, o desfecho de uma infidelidade é a separação. O roteiro desse processo é quase sempre o mesmo: em um dos lados está alguém que se sente “inocente” e vítima. Esta é a pessoa “boa e correta”. No outro lado está alguém apontado como “culpado” e perpetrador. Esta é a pessoa “má e errada”. Quando a separação acontece sem mudar esse roteiro de inocente-culpado, não existe possibilidade de uma solução. Acredite: os relacionamentos seguintes tenderão a seguir o padrão do anterior!

Obviamente que, dentre os pilares de uma relação estável de casal, a fidelidade está no centro. Quando um casal se forma em base ao acordo de fidelidade recíproca, aquele que tem uma relação extraconjugal experimenta algo que não permite à outra parte. Neste caso, a infidelidade é uma violação do acordo. Para entender isso desde a perspectiva sistêmica de Bert Hellinger, vamos começar nossas reflexões com um exercício metodológico.

Certamente, vocês já perceberam que nossas reflexões deixam de lado as convicções morais ou mesmo religiosas. E isso não é porque as consideremos irrelevantes. Pelo contrário! É uma decisão bem refletida. O motivo dessa escolha é simples: nossa abordagem é sistêmica de base fenomenológica. Como todos já sabem, esse é o método adotado por Bert Hellinger. Ao seguirmos esse método, olhamos para as coisas tais como são, tais como aparecem à nossa consciência sem julgamento de valor sobre elas.

Como Hellinger ensinou, somente seguindo esse caminho seremos capazes de mudar algo naquilo que aparece. Quando, em vez disso, a gente olha para as coisas com um julgamento prévio, como de que são corretas ou erradas, boas ou más, justas ou injustas, belas ou feias etc., seremos incapazes de ver realmente o que nos aparece. É como se olhássemos para o que aparece sob o filtro de nossos prejulgamentos.

Quando Hellinger insiste em que não devemos julgar, ele não está se referindo ao fato de que criticar, condenar, reprovar aquilo que a pessoa fez é algo “feio”, “errado”, “injusto” etc. Trata-se para ele de uma atitude que bloqueia nosso acesso àquilo que realmente é. Por exemplo, posso olhar para a morte de alguém e dizer: “que crime horrendo!” Nesse caso, já parto de um juízo moral que não me possibilita apreender a ação. Se, ao contrário, olho para a ação como um evento no qual alguém perde a vida, de forma neutra, eu me habilito a ver isso de modo mais inteiro.

Na postagem da próxima semana vamos mostrar como isso funciona a partir de um breve exercício didático com a situação de infidelidade. Com o exercício, aprenderemos como funciona o método sistêmico-fenomenológico de Hellinger.

Vai nos ajudar também a olhar para as ações das outras pessoas com mais neutralidade e, com isso, alcançaremos uma compreensão despida de nossos julgamentos de valor.

 

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar

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