Cotidiano

Festival em Bonito une músicos do Mato Grosso do Sul com artistas de projeção nacional

29.07_FIB_Noite-304.jpgBONITO – Distantes geograficamente, os tambores pernambucanos de uma tonelada da Nação Zumbi e as guarânias folk sul-matogrossenses de Geraldo Roca se aproximam no mesmo lugar. Ambos nascem da busca de novos olhares sobre tradições ancestrais da música brasileira. Uma proximidade que fica evidente quando ambos – Roca, morto no ano passado, foi lembrado num tributo – aparecem na programação do 17º Festival de Inverno de Bonito, na cidade turística de Mato Grosso do Sul – talvez o único em que isso seja possível, dada a falta de visibilidade nacional para artistas do estado. Em sua edição deste ano, realizada entre os dias 28 e 31 de julho, o festival reuniu atrações como as citadas, além de Elza Soares (RJ), Orquestra Filarmônica Jovem do Pantanal (MS), o grupo de dança Omstrab (SP), a pintura de Humberto Espíndola (MS), o encontro de Renato Borghetti e Yamandu Costa (RS), e o espetáculo circense Poropopó Varieté (MS).

– O festival nasceu já com esse desejo de montar um mosaico de várias formas de arte, tanto da produção local como da nacional – explica Andréa Freire, idealizadora do evento e presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. – A ideia desde sempre foi de integração entre o estado e o resto do Brasil. Por um lado, para servir de vitrine para os artistas locais e dar a eles oportunidades de trocar com o que está acontecendo no nível nacional. E o público pode presenciar isso.

A percepção de que público está se falando é uma preocupação do festival. Há a consciência de que ele é formado por turistas de outros estados e países que visitam Bonito – destino famoso mundialmente pelo turismo ecológico -, moradores de cidades vizinhas (o que inclui a capital Campo Grande) e os habitantes locais, como Carmen Aparecida Alencar, de 50 anos, guia de turismo há duas décadas:

– Queria ter visto a Nação Zumbi, mas não pude porque ia acordar cedo. Mas vou ver Elza Soares. Espero a época do festival, é bom poder ver esses artistas, gosto muito dos nossos tradicionais, como Almir Sater, que já tocou algumas vezes aqui.

O envolvimento da comunidade aparece na exposição de artesanato local, na Tenda dos Saberes Indígenas, na qual sete comunidades exibem sua arte e cultura, e mesmo na equipe que produz o festival:

– Um dos integrantes da nossa equipe frequenta o festival desde os sete anos. Foi a todas as edições como público e agora trabalha com a gente – conta Andréa.

A personalidade do festival é construída sobre a combinação curiosa de seu caráter popular – em praça pública, com direito a pipoca, churros e cangas estendidas com artesanato em arame e durepoxi à venda – e atrações nobres como Grupo Galpão e Hermeto Paschoal.

– Houve um tempo, em que estive afastada do festival, que ele ganhou um caráter mais mediático, mas se afastou da comunidade local – diz Andréa. – Hoje, fazemos uma audiência pública com a cidade para entender o que ela espera. Há uma demanda enorme por sertanejo universitário, mas nosso festival não quer ter esse tamanho e nem mira nesse tipo de apelo. Porque o festival não é simplesmente pra população ver o que ela quer ver, mas para se surpreender com a qualidade do que ela não conhece tão bem. A ideia é que a cultura sul-matogrossense se reconheça como brasileira aqui.

* O repórter viajou a convite da produção do Festival de Inverno de Bonito